quarta-feira, 21 de abril de 2010

5º Encontro de Música e Mídia: E(s)téticas do som Apresentação

5º ENCONTRO DE MÚSICA E MÍDIA:
E(ST)ÉTICAS DO SOM

APRESENTAÇÃO GERAL

O 5º Encontro de Música e Mídia é uma iniciativa do Centro de Estudos em Música e Mídia – MusiMid, que reúne pesquisadores e profissionais do meio acadêmico, de formação multidisciplinar, que têm como centro de interesse comum o estudo das múltiplas relações entre música e suas formas de comunicação e recepção.
Visando ampliar os debates e estendê-los à comunidade interessada no tema, o MusiMid vem realizando os Encontros de Música e Mídia: As múltiplas vozes da cidade (2005); Verbalidades, musicalidades: temas, tramas e trânsitos (2006), As imagens da música (2007), O Brasil dos Gilbertos: Gilberto Freyre, João Gilberto, Gilberto Gil e Gilberto Mendes (2008).
Em sua quinta edição, o Encontro tem como tema “E(st)éticas do som”, dividido em quatro subtemas: 1) Som, culturas e comunicação; 2) Som, tecnologias e eletroacústica; 3) Som, discursos e mídia; 4) Música e relações de poder. O evento, científico e artístico, reúne pesquisadores, músicos (compositores, instrumentistas, cantores) e demais estudiosos das áreas que tangenciam a linguagem musical.
O objetivo do evento centra-se, prioritariamente, na promoção de debates nas áreas afins à “semiótica da música midiática”, campo de estudo ainda recente, campo teórico que se encontra, ainda, em construção. Além do intercâmbio científico, almeja-se produzir e organizar documentação a respeito dos conteúdos debatidos no evento (audiovisuais, depoimentos, debates, apresentações musicais). Com os textos publicados em anais e outras atividades registradas em áudio e vídeo (a exemplo das edições anteriores), espera-se estar-se contribuindo para os estudos sobre os temas tratados.


SOBRE O CENTRO DE ESTUDOS EM MÚSICA E MÍDIA - MUSIMID

O MusiMid teve sua origem em 2001, durante o XIII Encontro Nacional da Anppom (Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música), em Belo Horizonte, quando se reuniu, pela primeira vez, o GT Música e Mídia. A partir de 2003, o grupo se constituiu formalmente e, além de atividades internas, promoveu diversas palestras e encontros. Acreditando que o fruto das reflexões e debates devem ser compartilhados com a comunidade científica e demais interessados no assunto publicou, em junho de 2007, com apoio financeiro da FAPESP, a primeira obra coletiva, assinada por participantes do Grupo e convidados do Conselho Consultivo: “Música e Mídia: novas abordagens sobre a canção” (Via Lettera/ Fapesp), organizado por Heloísa de A. Duarte Valente.
Contemplado com financiamentos do CNPq (Edital Universal) e da FAPESP (Jovem Pesquisador), uma significativa parte do Grupo vem se dedicando ao projeto A canção das mídias: memória e nomadismo, com a colaboração de especialistas de renome internacional. No ano de 2008, alguns resultados do projeto levados à comunidade científica foram o lançamento do livro Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos (Editora Realejo/ CNPq) e Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas (CNPq; FAPESP).
Atualmente vinculado ao Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), o MusiMid mantém diálogo permanente com outros centros de pesquisa voltados às áreas de Comunicação (CISC, Intercom, Alaic), Semiótica (ABS, IASS, CEO) e Música (Anppom, Abet, ICMS, IASPM), no Brasil e no exterior.
Os temas estudados no âmbito do Centro são: performance: o corpo do músico e suas diversas mediações, ao longo da história. O papel da tecnologia nos processos da comunicação poética; a concepção de instrumento musical e sua interpolação com as diversas mídias sonoras existentes ou obsoletas (microfone, amplificação, alta-fidelidade); as variações dos padrões de escuta e dos padrões de gosto, propiciados pela introdução das diferentes mídias sonoras (os diferentes estágios da evolução tecnológica); paisagem sonora: a transformação sofrida pelo meio ambiente acústico, em determinado contexto sócio-histórico-cultural e suas conseqüências no que toca à formação de novos padrões estéticos; as múltiplas interfaces da linguagem musical com outras linguagens artísticas e outras mídias; a música na mídia como elemento de memória cultural e musical; os cruzamentos possíveis de gêneros (fusão, cross over, hibridismo, mestiçagem entre outros); as relações entre criação artística, público, políticas culturais e criação de padrões estéticos; a canção das mídias ante o mundo contemporâneo (globalizado): questões de identidade e vínculo afetivo; a constituição de valores estáveis na era do efêmero; a música e seu papel crucial como elemento privilegiado da mega-indústria do entretenimento.


COMITÊ CIENTÍFICO

Coordenação geral
Profª. Dra. Heloísa de Araújo Duarte Valente
Prof. Dr. Paulo Chagas

Organização
Prof. Dr. Eduardo Vicente
Profª. Dra. Heloísa de Araújo Duarte Valente
Prof. Ms. Ricardo Santhiago

Comitê de leitura
Prof. Dr. Eduardo Vicente
Profª. Dra. Heloísa de Araújo Duarte Valente
Prof. Ms. Ricardo Santhiago
Profª. Dra. Simone Luci Pereira
Profa. Dra Teresinha Prada



E(ST)ÉTICAS DO SOM: O TEMA

O ano de 2009 coincide com algumas efemérides que, acreditamos, podem servir de motivação para as discussões a polarizadas no 5º Encontro: o cinqüentenário da morte de Heitor Villa-Lobos e o centenário de nascimento de Carmen Miranda, pilares na formação da música brasileira (e mundial), do século XX. Não obstante as grandes diferenças que os afastam, traços em comum entre ambos conduzem a convergências interessantes. Considerar-se que, por diferentes vieses, ambos construíram a representação do Brasil no país e do país, no exterior – fato que perdura até os dias atuais- já se anuncia como um instigante ponto de partida. Assim, ambas as figuras – tanto do compositor, músico e regente, quanto da cantora- servem de baliza para questões amplas e variadas como:
As dicotomias estéticas estabelecidas colocam em extremos polares os repertórios, divididos em: nacional/popular; popular/erudito; popular/folclórico; massivo/ culto; nacional/internacional, sério/ ligeiro. O mundo globalizado não comporta uma limitação a tais categorias, inadequadas para criação e análise de signos culturais e artísticos. Tampouco as linguagens artísticas podem ser pensadas através dessas referências.
Questionamentos de cunho político-ideológico, tais como: até que ponto o estado deve interferir na produção cultura e vice-versa? Quais os limites da tutela governamental na produção artística? É possível, no século XXI falar-se em mecenato, apadrinhamento, quando a hegemonia dos estados nacionais deixou de ser uma realidade? Nesta mesma época em que se discutem profundamente os meios de incentivo à cultura e a proteção do patrimônio imaterial, esbarra-se em severas dificuldades no que tange à definição de leis de incentivo à cultura e sua aplicabilidade.
O poder e a função da mídia na difusão de repertório e ensino da música e suas interfaces. O papel de programas de ensino e cultura: do Canto Orfeônico ao Projeto Guri . O embate entre cultura do entretenimento, assistencialismo social e educação.
Repertório, tecnologia e difusão: a música que se fixou no repertório é produto não apenas de políticas e entendimentos estéticos, dentre outros mas também resultado da evolução tecnológica e de opções de cunho estético. Ocorre que há alguns anos as multinacionais do som e da música estão em severa crise financeira em virtude do esgotamento do seu sistema.
A derrocada do estado do bem-estar social e a telemática trouxe novos hábitos cotidianos e, com isso, novas formas de relações sociais: as mudanças de papéis, nas relações de trabalho, na organização das formas de lazer e da vida cotidiana, nas relações interpessoais.
Os modos de vida do terceiro milênio determinam distintas formas de utilização do tempo livre (lazer). Os espetáculos musicais retiveram modalidades tradicionais (ópera, concerto sinfônico), mas também introduziram novidades (notem-se os espetáculos interativos pela internet e televisão, por exemplo).
POSTAS ESTAS PROVOCAÇÕES PRELIMINARES, O EVENTO SERÁ CONSTITUÍDO DE MESAS REDONDAS, SESSÕES DE COMUNICAÇÕES, APRESENTAÇÕES MUSICAIS E OFICINAS, POLARIZADAS PELOS REFERENCIAIS QUE SEGUEM ABAIXO QUE, ACREDITAMOS, CONSTITUEM O SUBSTRATO DAS QUESTÕES QUE ACABAMOS DE MENCIONAR.


EIXOS TEMÁTICOS

I - SOM, CULTURAS E COMUNICAÇÃO

Como o som se faz música e esta faz interagir performance e composição. Da percepção diferenciada chega-se a uma nova recepção. As linguagens e formas de expressão consideradas tradicionais (de longa duração, estáveis, entenda-se): O teatro, o ‘show’ de variedades, cabaré e ‘music hall’, cinema, telenovela, mega-shows, competições. O mainstream (pop,axé), o exótico (world music), As paisagens sonoro-culturais, compostas pela música.

II - TECNOLOGIA, PERCEPÇÃO, ESTÉTICAS DO SOM
A compreensão dos novos modos de criação, distribuição e escuta musical da sociedade digital. As múltiplas interações do som electroacústico na paisagem sonora contemporânea.. Música eletrônica, raves, musica eletroacústica, desenho sonoro, vídeo games, a conectividade musical da internet o som dos telefones celulares, ringtones, os campos híbridos de criatividade musical e sonora queantecipam novas tendências da sociedade.

III - SOM, DISCURSOS E MÍDIA
O “ruído sagrado” (Schafer).Como, através do som e da música, se detém, perde, repassa, multiplica o poder político e de policia: crítica, mídia, gravadoras, difusão (pensar na globalização), gêneros representativos O som ininterrupto e o seqüestro do silêncio e a formação da ansiedade participativa, através do ruído .

IV - MÚSICA E RELAÇÕES DE PODER
A importância de se revisar a história, a teoria e análise musical a fim de se incorporar a subjetividade das relações entre música, poder e violência. A política econômica da música reflete sobre a subjetividade do poder e a “imperfeição material e social do mundo que habitamos”, Susan McClary). A criatividade musical como um paradigma dos processos sociais.

5º Encontro de Música e Mídia: E(s)téticas do som Programa

Programa

Quarta, 16 Quinta, 17 Sexta, 18
Horário 1 –
Manhã 8h30-9h
Credenciamento

9h-9h30
Solenidade de abertura

10h-11h
Palestra inaugural
Norval Baitello Jr. 9-10h15h
IV Música e relações de poder: Música brasileira popular
Ouvinte privilegiada: Márcia Tosta Dias
************
I Som, culturas e comunicação: Música no rádio e história
Ouvinte privilegiada: Carmen Lúcia José


9-10h15h
IV Música e relações de poder: Novos formatos, novas mídias
Ouvinte privilegiado: Marcos Júlio Sergl

I Som, culturas e comunicação: Música e espetáculo
Ouvinte privilegiado: Evaldo Piccino

Intervalo 11h-11h30 10h15-10h30 10h15-10h30
Horário 2 –
Manhã 11h30- 13h

Mesa Redonda I:
Som, culturas e comunicação
Irineu Franco Perpétuo, Janete El Haouli, Eduardo Mendes, Christian Marcadet 10h30-12h

Mesa Redonda III:
Som, discursos e mídia Eduardo Vicente, Irineu Guerrini, J.C. Costa Neto, Márcia Tosta Dias, Eugenio Menezes 10h30-12h

Mesa redonda IV:
Música e relações de poder
Carole Gubernikof, Denise Garcia, Andréa Paula Santos, Ana Carolina T.Murgel
Almoço 13h-14h 12h-14h 12h-14h
Horário 3 –
Tarde 14h-15h15

II Tecnologia, percepção, estéticas do som: Experimentalismos musicais
Ouvinte privilegiada: Lilian Campesato
III Som, discursos e mídia:Identidades regionais (1)
Ouvinte: Eduardo Paiva


14h-15h15

III - Som, discursos e mídia: Música e cinema
Ouvinte privilegiado: Ney Carrasco
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II Som, discursos e mídia: Identidades religião e rock
Ouvinte privilegiado: Daniel Gohn

14h-15h15

II Tecnologia, percepção, estéticas do som: Estética musical
Ouvinte privilegiado: Rodolfo Coelho

III Som, discursos e mídia: Identidades regionais( 2)
Ouvinte privilegiada: Andréa Paula dos Santos


Intervalo 15h15-15h30 15h15-15h30 15h15-15h30
Horário 4 –
Tarde 15h30-16h15

Oficina com Sami Douek 15h30-16h15

Oficina com Léo Fuks 15h30-16h15

Oficina com Christian Marcadet
Intervalo 16h15-16h30 16h15-16h30 16h15-16h30
Horário 5 –
Tarde 16h30-18h
Mesa Redonda II:
Tecnologia, percepção, estéticas do som
Fernando Iazzetta, Rodolfo Caesar, Paulo Chagas, José Augusto Mannis 16h30-18h
Sessão de comunicações 4
(trabalhos do MusiMid), com a equipe MusiMid 16h30- 17h30
Palestra com Paulo Chagas


Intervalo 18h-18h30 18h-18h30 18h-18h30
Horário 6 –
Noite 18h30-19h30

Palestra com Rodolfo Caesar
Em torno do loop: girando conceitos 18h30-19h30

Palestra com Martha T. Ulhôa 18h30-19h30
Sessão de encerramento

Painel sobre as sessões de comunicação pelos Ouvintes Privilegiados

Balanço das atividades
Intervalo 19h-19h30 19h-19h30 19h-19h30
Horário 7 –
Noite 19h30-20h30
Concerto de música eletroacústica
org. Fernando Iazzetta 19h30-20h30
Recital de boleros
org. Edwin Pitre/Heloísa Valente 19h30-20h30
Recital de tangos para violão
org. Edelton Gloeden

4º Encontro de Música e Mídia: O Brasil dos Gilbertos (2009) Resumos

Sessão 1: Gilberto Mendes

Uma aproximação biográfica do universo poético-musical de Gilberto Mendes
Carla Delgado de Souza
carla-delgado@uol.com.br
carladesouza@hotmail.com

Embora seja comumente interpretada como um gênero literário, é possível notar a importância que as biografias e as autobiografias têm adquirido no cenário acadêmico mundial, sobretudo se levarmos em consideração que a perspectiva biográfica tem se mostrado presente como eixo norteador de pesquisas históricas, sociológicas e antropológicas, pois permite realizar discussões sobre as noções de indivíduo, pessoa e personagem com certa vantagem sobre as demais abordagens. É com base nessas afirmativas que pretendo aqui fazer algumas reflexões sobre a trajetória de Gilberto Mendes, importante compositor contemporâneo brasileiro. Acredito que, partindo de uma perspectiva biográfica, é possível descobrir quais são as regras sociais inerentes ao universo artístico-musical brasileiro e contemporâneo. Assim pensada, a trajetória de Gilberto Mendes nos parece exemplar, na medida em que o compositor santista consegue, como poucos, fazer as pontes e as ligações entre o movimento de vanguarda (atestando com isso seus alcances e seus limites) e outras linguagens musicais, como a música popular norte-americana, a música de cinema e a tradição musical clássico-romântica. A argumentação central dessa proposta de trabalho pretende, portanto, ter como material principal para a análise a afirmação, diversas vezes propalada por Gilberto Mendes, de que ele se sente três compositores ao mesmo tempo: um clássico-romântico, um de vanguarda e outro mais popular. Explorando a diversidade de criações artísticas e de concepções musicais do compositor, é possível identificar como essas suas três identidades artístico-composicionais assumem um caráter de complementaridade para a constituição de sua poética musical.

Palavras-Chave: Gilberto Mendes, biografia, trajetória, campo social, poética musical.

Música eletroacústica no Brasil e o pioneirismo de Gilberto Mendes
Antenor Ferreira Corrêa
antenor@usp.br

O “mote” deste trabalho foi a constatação de um fato já discutido por historiadores da música brasileira, a saber: a falta de critério metodológico verificável em alguns trabalhos historiográficos. Embora muito comentado, somente tomei consciência da extensão deste fato recentemente, durante o desenvolvimento de um projeto de minha autoria que resultou na publicação de material didático multi-midiático sobre a música eletroacústica no Brasil. Para melhor clareza sobre o teor e possíveis implicações advindas da referida constatação da inadequação metodológica, relato alguns antecedentes que motivaram a elaboração deste artigo. Começo com a descrição do projeto por mim realizado que visava à confecção de um documentário com suporte em DVD versando sobre a música eletroacústica desde seus primórdios na França e seus desdobramentos em solo brasileiro. São descritas passagens significativas das entrevistas realizadas com compositores brasileiros adeptos dessa estética e confrontadas com dados existentes na literatura especializada em língua portuguesa. A seguir, exponho um fato curioso percebido durante o processo de produção deste material: o problema de fontes históricas conflitantes na atribuição de pioneirismo. O caso do compositor Gilberto Mendes é, então, analisado mais detidamente e tomado como paradigma dessa situação de imprecisão historiográfica, uma vez que o mesmo não consta na bibliografia nacional, embora certamente deva ser considerado como um dos pioneiros na implantação da música eletroacústica no Brasil. Documentos e depoimentos são comparados, analisados e discutidos, apontando, ao fim, para uma situação musicológica pendente em razão da arbitrariedade de critérios metodológicos.

O meu amigo Koellreutter de Gilberto Mendes
Maria Yuka de Almeida Prado
yuka@usp.br

Gilberto Mendes, um dos maiores nomes da música erudita brasileira, compõe “O meu amigo Koellreutter” para voz feminina, marimba e piano, em 1984, em comemoração ao septuagésimo aniversário de Hans-Joachim Koellreutter, uma personalidade musical também marcante, que mudou radicalmente os rumos da educação musical, da concepção e da composição da música brasileira. O enfoque deste trabalho restringe-se à influência da cultura japonesa em Koellreutter nesta obra de Gilberto Mendes, onde podemos encontrar prováveis nuances sutis de pentatonismos engajados em uma sonoridade e estrutura minimalista. Esta pesquisa faz parte da tese de doutorado em andamento intitulada “A Poética Japonesa na Canção Brasileira de Oito Compositores”. Podemos defini-la como sendo uma “canção sem palavras” pelo uso do vocalize em “a” em uníssono com a marimba em toda a peça. É fundamentada no conceito hermenêutico de Paul Ricoeur da “decifração do sentido oculto através do sentido aparente”, no termo “fusão de horizontes” de Hans Georg Gadamer e na análise da canção de Deborah Stein e Robert Spillman. Condizente com as tendências da música do século XX, esta canção de Gilberto Mendes reflete o amálgama das concepções divergentes no que concerne às tonalidades, atonalidades, linguagens sobrepostas e multifacetadas, assim como a reverberação da miscigenação de várias culturas que compõem a nação.

Um percurso pela paisagem sonora de Gilberto Mendes
Marcos Júlio Sergl
mj.sergl@uol.com.br

A partir dos conceitos de Murray Schafer a respeito da paisagem sonora e da concepção de peças comerciais, pretendemos fazer uma análise da obra “Asthmatour”, de Gilberto Mendes. Ao analisarmos uma peça comercial precisamos ter em mente quer a propaganda lida com elementos do tempo e do espaço na medida em que reúne passado, presente e futuro. O passado fixado na memória, o presente implícito na observação e o futuro na imaginação. “Asthmatour” se vale destes tempos ao utilizar efeitos de dispnéia asmática, o caos provocado por ela e a solução de se viajar com uma empresa especializada, que nos libera do problema. Entra em ação outro elemento, a imaginação. Imaginar, que vem de imago, significa imitar o ato mental do projetar e do antever. A construção do pensamento flui entre desejos e necessidades. No ato de “propagar” existe uma conversa íntima entre o pensar e o fazer. Esse diálogo íntimo, que é a comunicação interna, revela que se faz necessário externar o ato comunicativo. Ao externá-lo, é preciso fazer que ele seja recebido, aceito. Em “Asthmatour”, Gilberto Mendes finaliza a obra com um jingle escrito de forma a induzir o receptor a desejar a viagem e utiliza na assinatura a garota-propaganda padrão, com voz convincente e afetada. Faremos ainda uma comparação da estrutura de “Asthmatour” com os recursos utilizados no “Motete em ré menor” e em ”nascemorre”. Enfatizamos que nestas três composições Gilberto Mendes se vale de recursos vocais variados, recriados em cada performance de forma inédita, fato que as torna tão interessantes tanto para o emissor quanto para o receptor.

Sessão 2 Gilberto Mendes (Iniciação científica)

Cinemeiro ou Cineasta dos Sons? o cinema e a obra de Gilberto Mendes
Plínio Birskis Barros
pliniobbarros@yahoo.com.br

Certa vez, Gilberto Mendes confessou que poderia ter sido cineasta, e não músico, se tivesse tido a oportunidade. Até hoje a vida ainda não colocou uma câmera em suas mãos, mas desde cedo, entregou-lhe os sons e a possibilidade de fazer música numa época em que os limites entre as artes se confundem e se embaralham, interdisciplinarmente. Já nas suas primeiras peças, ouvimos as melodias e harmonias da música do cinema americano dos anos 30; "ouvi-vemos" em seu teatro-musical o silêncio de Antonioni, certo surrealismo de Godard e, nas obras da maturidade - como Rastro Harmônico e Alegres Trópicos -sentimos um forte falar por imagens, uma música que se desenrola como um filme; isto, sem contar as inúmeras citações, homenagens e referências ao cinema. Diálogo incomum e relevante que clama por uma análise mais atenta. Gilberto Mendes percorreu melodias, harmonias e imagens desde a infância; tornou-se compositor e jamais deixou de ser “cinemeiro” (como ele mesmo diz). Acredito que, dentro de sua obra, esteja presente não só um apaixonado por cinema, mas também um cineasta, in musica.

Da tragédia ao Tango: análise da construção e das relações intersemióticas em “O Último tango em Vila Parisi”, de Gilberto Mendes
Filipe da Silva Alberti
Fsa_oasis@yahoo.com.br

Este trabalho pretende expor analisar alguns aspectos da obra "O último tango em Vila Parisi", do compositor Gilberto Mendes, análise esta que tratará tanto apontamentos estéticos, quanto os materiais utilizados pelo compositor: elementos de repetição que evocam processos minimalistas; a escolha do tango como gênero musical e, logo, os estilemas que traduzem o dito gênero dentro da obra. À parte as questões puramente musicais, serão analisados os elementos extra-musicais, como o contexto político e trágico que envolveu a situação da Vila Parisi e a relação desses fatores com a escolha

Aspectos do surrealismo na obra de Gilberto Mendes
Ana Paula Oliveira
anamusike@hotmail.com

O surrealismo começou na literatura em 1924 com o Manifesto Surrealista do poeta e escritor francês André Breton. No Manifesto, Breton propôs aos escritores e artistas que expressassem os seus pensamentos de maneira livre, irracional e espontânea, sem exercer nenhum tipo de controle sobre ele. No Brasil, a idéia do surrealismo não foi aceita, pois muitos artistas não concordavam com a política revolucionária e nem com o modo de vida e pensamento que eles adotaram. Mesmo com essa rejeição, podemos observar características surrealistas na arte e na poesia brasileira. Anne Le Baron em “Reflections of Surrealism in Postmodern Musics”, afirma que podemos encontrar as principais características do surrealismo, que são a colagem e o automatismo (encontrados de uma forma extensa nas artes plásticas e na literatura), na música. O termo surrealismo nunca foi utilizado para designar as obras de Gilberto Mendes, porém podemos identificar alguns aspectos surrealistas em sua obra. O propósito deste trabalho é estudar as possíveis manifestações do surrealismo na obra (teatro musical) de Gilberto Mendes, fazendo análise da estrutura do teatro musical, análise musical e, por fim, relacionar a linguagem musical com as características surrealistas. Esse estudo também é uma ponte para entendermos o que vem a ser a pós-modernidade na música, na qual a obra de Gilberto Mendes é considerada exemplar.

Palavras chave: Surrealismo / Gilberto Mendes / Teatro Musical / Análise musical e estrutural.

O momento nacionalista em duas canções de Gilberto Mendes
Simei Paes
simeipaes@click21.com.br

Sessão 3 Gilberto Freyre

A divulgação de músicas regionais pelo programa de TV Frutos da Terra e a caracterização de uma identidade.
Martha Antonia dos Santos Reis
martha_reis@hotmail.com

O presente trabalho consiste de considerações surgidas da observação do programa de TV, Frutos da Terra, que vem divulgando músicas regionais ao longo de 25 anos. Este é o objeto de estudo da pesquisa “Programa Frutos da Terra: um agente divulgador da música regional”. É um programa cultural, de cunho regionalista, composto quase que em sua totalidade por apresentações musicais. Vem sendo exibido pela Televisão Anhanguera, emissora afiliada à Rede Globo, uma vez por semana, sendo que cada exibição tem a duração de trinta minutos aproximadamente. Atualmente, sua apresentação ocorre aos sábados às onze e meia da manhã. Sua audiência abrange os Estados de Goiás e Tocantins, o Distrito Federal e algumas cidades do interior do Pará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Um dos propósitos desse estudo é explorar questões sobre a identidade cultural na pós-modernidade. Várias são as contribuições teórico-conceituais sobre identidade, entretanto, este estudo se embasa nas idéias de Hall, Bauman, Clanclini e Bahabha. Considera-se como sendo uma possibilidade a idéia de que o programa, por ser regional, conserva uma identidade cultural. Nesta perspectiva, discute-se, primeiramente, o conceito amplo de identidade na visão de Boff, para depois se ater na identidade cultural. A identidade cultural goiana é discutida e, para isso, é feito um breve apanhado da história de Goiás. Uma história cultural que se encontra intimamente relacionada com a idéia primeira de sertão e com o processo de ressemantização do significado desse termo. Frutos da Terra divulga músicas populares urbanas e sertanejas. A pesquisa encontra-se, nesta fase, centrada em busca de informações e reflexões sobre o gênero musical rural, a popular música sertaneja. O trabalho versa sobre as formas diversas desse gênero, caipira, sertaneja e country. Essas formas contribuíram intensamente com o processo de ressemantização do sertão e, conseqüentemente, com o estabelecimento de uma identidade cultural nas regiões interioranas do país. As formulações a respeito dos estilos caipira, sertanejo e country têm como base os estudos de Ulhôa e Pimentel. Até então, ficou constatado uma predileção por parte do programa pela forma sertaneja raiz. Com isso, percebe-se uma provável tentativa de transmissão de uma identidade, através do programa. Além da valoração da tradição de uma região.

Palavras-chave: Frutos da Terra, música rural, identidade cultural.

Deixa falar: Sambas e sambistas nos primórdios da música popular brasileira.

Carlos Eduardo Amaral de Paiva
du-paiva@hotmail.com

Este trabalho pretende uma análise sócio-histórica da escola de samba Deixa Falar, considerada a primeira escola de samba do Rio de Janeiro, fundada no ano de 1928, no bairro do Estácio, almejamos realizar um estudo da produção musical dos sambistas conhecidos como “pessoal do Estácio”. A pesquisa parte de um dado estético, a modificação rítmica do samba operada pelos sambistas do Estácio. A nova célula rítmica introduzida no samba por estes músicos acabará se tornando padrão para definição de uma originalidade no samba, marcando um processo de normatização do gênero musical. As mudanças ocorridas no samba a partir da década de 1930, não se referem apenas a padrões estéticos, elas evidenciam um novo padrão relacional na tríade obra-autor-público dentro da esfera musical. Partindo deste pressuposto busco uma problematização da comercialização de sambas, bem como do processo de profissionalização do artista negro na época, demonstrando a sua inserção precária no incipiente mercado musical. Por fim cabe uma análise do tema da malandragem entre os sambistas do Estácio. Acredito que a temática da malandragem pode ser interpretada paralelamente a inserção precária dos sambistas do morro no mercado musical, desta forma, o malandro presente nas músicas seria um ser na fronteira, entre o pólo da ordem (profissionalização) e da desordem.

Palavras Chaves: Samba - Deixa Falar - sambista do Estácio - profissionalização - malandragem.

Samba e Nação: Música Popular e Debate Intelectual na Década de 1940
Eduardo Vicente
eduvicente@usp.br

O presente texto se propõe, num primeiro momento, a refletir sobre modo o pelo qual o debate em torno da questão da cultura – que teve grande proeminência no cenário do pensamento social brasileiro nas décadas de 1930 e 1940 – desenvolveu-se dentro do campo específico da música popular. Com esse objetivo, são analisados os artigos sobre rádio e música popular produzidos por intelectuais ligados ao regime Varguista para a Revista Cultura Política, que foi publicada pelo DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda – entre os anos de 1941 e 1945. Em contraposição a essa visão estatal da cultura, onde a influência da obra de Gilberto Freyre foi, sem dúvida, bastante significativa, são apresentadas diferentes discussões sobre a música do período ou, mais especificamente, sobre o samba, produzidas por autores contemporâneos. A análise dessas obras, especialmente dos trabalhos de Hermano Vianna, José Miguel Wisnik, José Ramos Tinhorão e Carlos Sandroni, permite-nos confrontar diferentes abordagens acerca desse processo de legitimação do samba, que saía então da marginalidade para assumir o papel de música símbolo da nossa nacionalidade. Uma das intenções do texto é a de demonstrar que não se deve ignorar o papel do “pensamento oficial” no processo que então se estabeleceu ou a significativa presença do Estado na produção simbólica desenvolvida no período (seja através da censura ou do incentivo à produção e veiculação de obras).

Palavras-Chave: música popular; samba; Estado Novo; Revista Cultura Política

Sessão :3 Gilberto Gil


“A gente ta aí, a gente não tem vergonha de nada, a gente é isso...” O doce bárbaro Gilberto Gil e os episódios de 1976.
Vicente Saul Moreira dos Santos
vsaul@uol.com.br

Por iniciativa de Maria Bethânia, foi criado o grupo “Doces Bárbaros” que reunia também os tropicalistas Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Em junho de 1976, ocorreu a estréia no Anhembi, em São Paulo, logo em seguida iniciaram turnê pelo sul do país. Nessa ocasião, o compositor e intérprete Gilberto Gil ganhou relevância especial devido a sua prisão em Florianópolis por porte de maconha. Suas declarações na época, a repercussão social, o julgamento e os efeitos sobre sua trajetória merecem destaque. O êxito do grupo foi mantido, alcançando, ainda, uma maior procura do público. Após esse episódio retornaram ao palco, se apresentando no Canecão, Rio de Janeiro, onde permaneceram por dois meses. Ainda em 1976, o LP “Doces Bárbaros” foi gravado ao vivo e lançado pela Philips. Outro importante registro da trajetória do grupo encontra-se no documentário homônimo dirigido por Jom Tob Azulay. As apresentações eram marcadas por forte conteúdo cênico, pelo diálogo com o tropicalismo e o repertório baseou-se entre a brasilidade e a baianidade, características marcantes desses artistas. Através da análise da cobertura jornalística, pode-se afirmar que os “Doces Bárbaros” dividiram as opiniões no período, entretanto, posteriormente seria considerado um marco importante da história da cultura e da Música Popular Brasileira (MPB) enquanto constructo histórico.

Palavras-chave: História da Música Brasileira – Gilberto Gil – Doces Bárbaros – História da Cultura Brasileira – História e Mídia

Raul Seixas, entre a legitimidade e ilegitimidade das artes musicais no Brasil.
Lucas Marcelo Tomaz de Souza
lucas_marilia@yahoo.com.br

Enquanto as elites intelectuais e artísticas brasileiras se fechavam em um ideal de Brasil que buscasse através da literatura, música, cinema e pintura as origens de uma brasilidade híbrida e original, protestando junto a um estado de subdesenvolvimento econômico brasileiro, a consolidação de um mercado de bens culturais possibilitava a ascensão de formas artísticas alheias ao projeto cultural das artes dominantes. O rock começa a configurar-se, dentro deste cenário, como ritmo de grande valor comercial e de pouca importância estética ou ideológica. Faremos, portanto, uma análise biográfica de um dos precursores do rock no Brasil (Raul Seixas) delineando sua relação individual e artística com as formas consagradas de arte (Bossa Nova, Tropicália, Canção de Protesto, Samba). Nascidas no ceio dos debates de uma elite intelectual universitária, consolidou para si um projeto político e artístico, semeado desde o modernismo até os anos setenta, configuravam uma imagem de importância única ao artista, que vinha sendo riscada com a difusão das artes de menor valor. Analisaremos a trajetória de Raul Seixas, desde seu início na Bahia dos anos sessenta -período em que a efervescência das elites baianas, dentro da Universidade Federal da Bahia, consolidava aquilo que posteriormente se chamaria Tropicalismo- até sua ida para o Rio de Janeiro, onde o desenvolvimento dos meios de comunicação e da mídia possibilitava a ascensão de formas diversas de artes, não legítimas até então, mas que, tempos depois, conseguiam se firmar, com ajuda desta mesma mídia, no interior do cenário musical nacional, como aconteceu com Raul Seixas.

Gilberto Gil e a diáspora africana
Nancy Alves
nancy_ap_alves@hotmail.com

Este trabalho tem por objetivo analisar a obra de Gilberto Gil e o seu caráter pan-africano, voltado para tribos e nações com um passado em comum que espalham e espelham aos quatro cantos do mundo uma herança cultural que se funda na vivência do trabalho escravo e nas sociedades escravocratas. Por meio de algumas canções - escritas em português ou em língua estrangeira – e, em perspectiva sócio-histórica, pretendemos analisar arranjos, instrumentação, células rítmicas e conteúdos temáticos, depreendendo deste contexto as múltiplas expectativas de uma sociedade interativa e globalizada, tão caros ao mundo contemporâneo.
Poderão fazer parte do corpus deste trabalho as seguintes canções: No woman no cry, Balafon, Oslodum ,La lune de Gorée, Mon tiers monde, Touche pas à mon pote, La renaissance africaine.

5 Gilberto Freyre

Vitória: da ilha à nuvem
Profª. Drª. Mónica Vermes
mvermes@uol.com.br
mvermes@gmail.com

A presente comunicação toma como ponto de partida um levantamento realizado no jornal A Gazeta (Vitória-ES) dos eventos musicais que ocorreram entre 2001 e 2005 na Grande Vitória. A partir da sistematização e análise desses dados, foi possível esboçar um mapa da atividade musical em Vitória no início do século XXI e identificar – nas iniciativas e no discurso da grande mídia – um permanente choque entre a necessidade de afirmação de uma identidade local forte e o balizamento dessa mesma identidade a partir da comparação entre Vitória e outras capitais brasileiras, tipicamente São Paulo e Rio de Janeiro. Tomando como referência duas imagens da cidade, a de ilha e a de “nuvem digital”, propomos uma reflexão sobre a idéia de identidade capixaba e sobre os vários híbridos que surgem a partir dos encontros entre a cidade e seus outros.

Palavras-chave: música capixaba, Vitória-ES, identidade, hibridação, cena musical

Discursos Identitários em Torno da Música Popular Brasileira
Michel Nicolau Netto
michelnicolau@gmail.com

A música brasileira foi marcada, durante quase todo século XX, por sua ligação com a identidade nacional, num momento em que nação correspondia a um Estado e a um Povo determinados, sendo que as relações entre estes três elementos e o resto do mundo se davam a partir da oposição interno/externo. Com o processo de globalização, esses três elementos têm suas ligações quebradas e a identidade nacional passa a ser forjada em um ambiente complexo, no qual o Estado continua atuando, mas agora em meio a outros atores globais que influem em tal forjamento. Assim, em um espaço global, a relação de forças que se apresenta na conformação dessa identidade é modificada. Do mesmo modo, os interesses que mobilizam a identidade nacional não mais são os mesmos, pois não se atêm à formação de um corpo simbólico homogêneo dentro de fronteiras, mas se voltam para a inserção (de produtos, pessoas, culturas, etc) além das fronteiras. O trabalho a que nos dedicamos tem como ponto de partida mostrar como foi o processo de formação da música brasileira como símbolo identitário nacional, tendo como foco as décadas de 1910/20/30. É com este período que contrapomos o objeto principal do trabalho, qual seja, a ressignificação da identidade nacional a partir da inserção da música brasileira no espaço global. Para tanto, temos como corpo de análise os discursos feitos em torno desta música em referência a questões identitárias, discursos esses encontrados em mídia estrangeira, projetos de exportação de música, catálogo de música e encartes de discos. A partir desta pesquisa, podemos aclarar um cenário no qual a identidade nacional se encontra em uma situação de tensão com outras identidades, sendo que essas se tornam símbolos hierarquizados, articulados conforme interesses de mercado. Se, de um lado, vemos uma aura libertária das identidades – valorizadas nesse momento e, portanto, capazes de pressionarem a abertura de significado da idéia de identidade nacional – de outro vemos o mercado hierarquizando tais identidades, incluindo algumas, excluindo outras e dando valor a todas. Com isso, é bem verdade que vemos surgir possibilidades de identificações diversas na geração de sentido social, que vamos denominar, ao lado da identidade nacional, de identidades mundial e restritas. Contudo, também notamos que as forças para a adequação individual ou coletiva a essas diversas identidades são distribuídas desigualmente. Em um cenário capitalista num nível global – no caso da música dominado por uma indústria cultural complexa, formada por instâncias tecnológicas e fonográficas, e por ideologias bem fincadas, que buscam estabelecer uma aura de democratização cultural – a alguns indivíduos e grupos é exigida a fixidez identitária enquanto para outros é oferecida a múltipla identificação. Se hoje a mobilidade é fator positivo de diferenciação (uma exigência do processo de globalização) a desigualdade está dada. Ademais, como a legitimidade da mobilidade na globalização transpassa para as identidades, são aquelas com maior capacidade de se inserirem no espaço global e, portanto, se adaptarem aos padrões hegemônicos, que terão maior valor em um mercado mundial de símbolos. É isso o que vemos na música ao pesquisá-la a partir da questão da identidade. Os artistas que se inserem no mercado mundial devem lidar de um lado com a sua própria capacidade de se moverem entre identidades e de outro com o valor que sua identidade, condicionada pela indústria, possui. Possibilidades libertárias e opressoras estão lançadas em um mesmo tabuleiro. Contudo, as peças do jogo não têm a mesma força para todos.

“Eu canto pra falar do Amazonas”: Um estudo da produção de MPA em Manaus.
Mauro Augusto Dourado Menezes
mauro-dourado@hotmail.com
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga

A música popular amazonense (MPA), produzida em Manaus desde meados da década de sessenta do século passado, é caracterizada pela presença em suas letras de temas característicos do cotidiano do homem amazonense, a natureza, a mestiçagem, a vida na cidade e outros motivos que inspiram músicos e compositores a produzirem. Uma característica peculiar desta música é o uso de múltiplas expressões e termos regionais, presentes tanto no meio urbano como no interior, entre os quais: “banzeiro”, “curumim”, “leseira”, e etc. Observa-se também que a MPA se apropria de temas associados às manifestações folclóricas locais e regionais. A fim de fixar aspectos característicos dessas práticas folclóricas, muitas vezes vivenciadas pelos próprios compositores e músicos, mas também na exaltação das festas folclóricas correspondentes ao mês de junho, como bois-bumbás, entre outras, com propósitos de conferir a tais composições uma suposta “autenticidade” cultural amazônica. O que nos sugere um diálogo com os ideais modernistas da década de trinta, sem deixar de reconhecer influências de movimentos musicais nacionais como a Bossa Nova e a Tropicália na MPA, que se ocuparam dentre outras coisas, com a problematização da identidade nacional do Brasil. Dessa forma, identificando a música popular como expressão de cultura popular e, que a relação entre a arte e a cultura pode assinalar a incorporação de processos sócio-culturais locais e regionais, a “MPA” seria uma manifestação cultural por meio da qual afirmam-se valores e se coloca em debate, em poesia e em música, a vivência do homem amazônico.

Palavras-chave: Cultura Popular, Música Popular, Amazonas, Manaus, Antropologia Urbana

Hibridismos do Mangue: Chico Science & Nação Zumbi
Herom Vargas
heromvargas@terra.com.br

Esta comunicação tem o objetivo de discutir o experimentalismo do grupo Chico Science & Nação Zumbi (CSNZ) fundado nos hibridismos entre os gêneros musicais regionais de Pernambuco (maracatu, coco, ciranda e embolada) e as formas contemporâneas do rock e do rap. Foram selecionadas algumas canções de seus dois primeiros discos (Da lama ao caos, de 1994, e Afrociberdelia, de 1996) e analisadas nos aspectos rítmicos e instrumentais, estrutura e temática das letras, usos da voz e do canto, para detectar as aproximações criativas entre os gêneros, sínteses entre tradição e modernidade


As identidades Gilberto e a identidade nacional
Paulo de Tarso Salles
ptsalles@usp.br

A oportuna e casual identidade nominal entre Gilberto Freyre (Recife, PE, 1900-1987), Gilberto Mendes (Santos, SP, 1922), João Gilberto (Juazeiro, BA, 1931) e Gilberto Gil (Salvador, BA, 1942), oferece um excelente meio de articular algumas questões em torno da Música, pensada como referência para a questão da identidade nacional. Não obstante, essa mesma identidade se integra a uma discussão ainda mais ampla, onde os conceitos de Modernismo e Pós-modernismo serão aplicados como construções teóricas que envolvem a produção cultural brasileira. Dentro dessas duas perspectivas será conduzido este ensaio, a partir de aspectos observáveis na produção desses quatro notáveis.

Sessão 6. João Gilberto

O Campo da MPB como "braço artístico" da Modernização Conservadora Brasileira
– ou alguns porquês da "Contradição sem Conflitos de João Gilberto" e seus pares
Daniela Ribas Ghezzi
daniribas77@yahoo.com.br

Este artigo relaciona a música popular urbana brasileira a um processo amplo de modernização da sociedade. A transformação da música popular a partir de 1958 (e o desenvolvimento daquilo que ficou conhecido como MPB) teria ocorrido através de mudanças moleculares e de processos de transformação-conservação, que guardariam semelhanças com a modernização conservadora brasileira. Tanto na MPB como nos processos sócio-políticos existiria uma estratégia em que a mudança não exclui a tradição. Desenvolverei a questão de como a Bossa Nova, ao transformar a música popular, teria veladamente reiterado a tradição, ainda que de forma inovadora e moderna. Em dez anos (correspondentes a um "ciclo de institucionalização"), tal desenvolvimento teria autonomizado um campo de produção simbólica, cuja noção de legitimidade se articularia à estrutura de sentimento do período. Através de uma "mediação criativa" das estruturas sociais, as mudanças moleculares do campo da MPB teriam problematizado as questões da identidade cultural, da modernização da tradição, da renovação da expressão musical, e do engajamento nas manifestações artísticas (presentes nessa estrutura de sentimentos), produzindo assim novos significados às transformações sociais em curso naquele momento no Brasil – perspectiva recuperada do materialismo cultural. Pela centralidade que ocupa na formação cultural brasileira, acredito que o campo da MPB, através da busca de autonomia artística e de legitimidade de seus agentes (responsáveis pela criatividade da mediação entre cultura e sociedade), tenha colocado em prática sua capacidade de articular as questões pertinentes à modernização da sociedade à sua própria modernização, pois estas questões eram candentes também para seu próprio desenvolvimento.

Palavras-chave: Bossa Nova; campo da MPB; mudanças moleculares na MPB; modernização conservadora; "mediação criativa".


João Gilberto e a retomada do samba em via dupla
Liliana Harb Bollos
lilianabollos@uol.com.br

Este texto discute o repertório dos três primeiros discos do violonista e cantor João Gilberto e a sua capacidade de retomar o samba tradicional, de gerações passadas, imprimindo a sua marca, não só por causa da famosa batida, mas também pelos inventivos acordes com tensões harmônicas e as suas melodias sincopadas; inventando um diálogo entre a voz e o violão, transformando o violão em instrumento participante do processo criativo e não somente um “acompanhante” da voz, tão comum em gerações passadas. O ritmo do samba em João Gilberto se torna mais suave, fino, não é mais aquele ritmo marcante, sincopado, festivo, e a batida que ele imprimiu, desde a sua primeira gravação com Elizete Cardoso no LP Canção do amor demais (1958), foi decisiva para que muitos jovens se interessassem em tocar esse instrumento. Seus três primeiros discos, “Chega de Saudade” (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961), são emblemáticos por conter canções como “Chega de Saudade” (Jobim/Moraes) e “Desafinado” (Jobim/Mendonça) ao lado de sambas de compositores de gerações anteriores como “Rosa morena” (Dorival Caymmi), “Morena boca de ouro” (Ary Barroso), evidenciando aquele ditado que diz: “antes de fazer o novo devemos conhecer o velho”. Em suma, não é a composição que anuncia a bossa nova, mas o intérprete, o modo como a música é tocada.

Bossa Nova: de canção a trilha
Carmen Lucia José
cljose@uol.com.br
Elisabete Alfeld Rodrigues
ealfeld@uol.com.br

O movimento da cultura obedece a uma dinâmica que lhes é própria, quando códigos e linguagens realizam significativos deslocamentos midiáticos, que, ao serem relocados, originam novos textos e novas significações. Aproveitando-se das realizações cinematográficas e radiofônicas, a televisão já nasceu sabendo do valor da música e da canção como constituinte de suas produções culturais. Como no cinema, a narrativa televisual conta com a trilha para compor o nível semântico do texto. Como no rádio, a narrativa televisual conta com a trilha para compor a paisagem sonora do tempo e do espaço de seus enredos. No movimento de uma mídia para outra, a dinâmica de um texto cultural ressemantiza o texto cultural de origem, restrigindo-o e/ou complexificando-o esteticamente. No Brasil, a Bossa Nova, surgida na década de 50, foi um movimento definitivo para a canção popular. Depois disso, a dinâmica da cultura deslocou e relocou muitos dos textos musicais da Bossa Nova para outros contextos midiáticos; um deles foi o deslocamento e relocamento realizado pela televisão, mais especificamente, deslocado para o contexto da telenovela e relocado no áudio como trilha da telenovela. Como trilha, a canção pode ser tema de abertura, de personagens ou ainda fazer as passagens entre cenas. Deslocada de seu contexto original, a canção dialoga com os elementos característicos da dramaturgia do entretenimento; os fragmentos da canção na cena servem à imagem distanciando-a de suas marcas estéticas. No caso da Bossa Nova, cujo paradigma composicional era “o amor, o sorriso e a flor”, quando relocada no contexto da telenovela, cria um contraponto em relação às tramas e subtramas presentes nos enredos. Este recurso traz para a cena da novela a notoriedade de um gênero musical, porque já afirmado anteriormente pela audiência, quando da escuta no contexto original; no entanto, a notoriedade não é reconhecida pela escuta massiva e a canção é apenas trilha.

Palavras-chave: bossa nova; canção; trilha; telenovela.

De “João Gilberto de saias” a “diva predestinada”: Versões sobre Rosa Passos
Ricardo Santhiago
rsanthiago@usp.br

Esta comunicação tem como ponto de partida duas entrevistas de história oral de vida, concedidas pela cantora e compositora baiana Rosa Passos. Em torno delas, e com o auxílio de sua discografia e de um conjunto de matérias de imprensa a seu respeito, são discutidas as motivações e os processos que se encadeiam em torno da elaboração de uma imagem pública que supere o estigma de “João Gilberto de saias” e o substitua pela imagem da “diva predestinada”. Particularmente após o lançamento do CD Rosa, de 2005, e de sua consagração internacional, as estratégias de trabalho e divulgação de Rosa Passos indiciam a flexibilização de seu vínculo com o paradigma bossanovista e a adesão a posturas que confrontam e problematizam os conceitos de originalidade e cópia; herança e influência; trabalho e missão, subjacentes à sua rotulação como “versão feminina de João Gilberto”.

Palavras-chave: História oral; História de vida; Música popular brasileira; Bossa Nova; Rosa Passos

Sessões especiais:

João Gilberto, o projeto utópico e a melancolia da bossa nova
(Ou: um baiano de Juazeiro na zona sul carioca, entre “chega de saudade” e “por que tudo é tão triste?”)
Walter Garcia
wgarciasjr@uol.com.br
Duas idéias bastante repetidas nos últimos anos (e sobretudo nas comemorações dos 50 anos da bossa) serão inicialmente analisadas: “Se o jazz é vontade de potência, a bossa nova é promessa de felicidade”, de Lorenzo Mammì; “o Brasil precisa chegar a merecer a bossa nova”, de Caetano Veloso. Pretende-se investigar o termo “promessa”, na primeira formulação, sublinhando-se sua distância em relação à bossa tal como é veiculada no atual espetáculo midiático. E será pensada em chave crítica a distinção entre “fazer projetos para o futuro e sonhar”, na qual a segunda idéia se assenta. A discussão tem por objetivo último identificar, na forma artística joãogilbertiana, a presença estrutural de utopia e melancolia. Pesquisando-se as bases histórico-culturais dessa “contradição sem conflitos”, pretende-se melhor esclarecer tanto seu impacto inicial quanto sua vigência e seus desdobramentos.
Gilberto Freye e a música em Sobrados e Mocambos

José Geraldo Vinci de Moraes
zgeraldo@usp.br

A música não tem aspecto central na vasta e variada obra de Gilberto Freyre sobre a história da formação e decadência da sociedade patriarcal no Brasil. Porém, ao mesmo tempo ela se apresenta de maneira evidente e como elemento formador permanente da sociedade brasileira. Sua obra não é de modo algum surda em relação aos mais variados sons e músicas e às redes sociabilidades que se apresentaram em torno delas no cotidiano brasileiro, desde a colonização até o início do século XX. Apesar disso, os historiadores raramente chamaram atenção a essa questão e emudeceram completamente durante muito tempo sobre o tema. Na realidade a historiografia marginalizou sua obra de maneira geral desde pelo menos a década de 1960. Neste período ela sofreu vigorosa critica dos historiadores, influenciada fundamentalmente pela “sociologia paulista”, que seguiu nas décadas subseqüentes fazendo-a desaparecer das referências dos estudos históricos. Foi somente entre o final da década de 1980 e início de 1990, seguindo o ritmo internacional das mudanças historiográficas, que ela passou por criativa releitura dos historiadores. Nela eles encontraram de maneira precursora “novos problemas, objetos e abordagens”, a desejada ampliação do documento histórico e da critica documental, caminhos metodológicos alternativos e temas renovados. Neste novo enquadramento, a música pôde se revelar ao historiador tanto um novo objeto ou tema historiográfico, como fonte histórica para acessar aspectos do passado. Por isso, reler sua obra, como Sobrados e Mocambos, com os ouvidos atentos tornou-se tarefa importante - embora ainda em ritmo rallentando - para ampliação historiográfica de modo geral e da música de modo especial.


Possibilidades de leituras da obra de Gilberto Mendes: A versão para 2 violões da Peça nº. 4 para piano
Edelton Gloeden
adeliaedelton@uol.com.br
Luciano Morais
Lucianocesar78@yahoo.com.br

Este artigo procura mostrar alguns dos processos utilizados na realização da versão para dois violões da Peça nº. 4 de Gilberto Mendes (1922) originalmente escrita para piano solo. Esta versão, juntamente com a Peça nº. 10 foi feita na década de 1990 e reapresentada no 4º Encontro de Música e Mídia O Brasil dos Gilbertos.


A técnica composicional de Gilberto Mendes
Beatriz Alessio
yagarel@hotmail.com

A presente comunicação aborda os sete estudos para piano de Gilberto Mendes, utilizando a análise voltada para questões interpretativas. Juntamente com a execução de três desses estudos, incluímos alguns exemplos da técnica em que se baseia a linguagem deste que é considerado um dos maiores compositores brasileiros da atualidade. Analisando essas obras segundo esses critérios, procuramos elaborar um trabalho que possa servir de incentivo a posteriores pesquisas sobre Mendes e o repertório brasileiro contemporâneo para piano. Comentaremos também a edição que fizemos dos quatro estudos que permaneciam inéditos.

Palavras-Chave: estudos para piano; Gilberto Mendes; música contemporânea brasileira; análise; pós-modernismo musical.

Gilberto e Willy: ética e estética
Paulo Chagas
paulo.chagas@ucr.edu

Os compositores Gilberto Mendes e Willy Correa de Oliveira representam dois ícones da música erudita brasileira contemporânea. Ambos foram fundadores do movimento Música Nova, em 1961 e, desde então, exerceram influência significativa em gerações posteriores de compositores e intérpretes. Este artigo examina alguns aspectos das trajetórias musicais de Gilberto Mendes e Willy Corrêa de Oliveira a partir, sobretudo, da minha experiência pessoal. A investigação privilegia a dialética de proximidade e distanciamento, que caracteriza a relação entre esses dois compositores, a fim de ressaltar questões éticas e estéticas.

Mutationem III de Claudio Santoro: uma tradução do analógico para o digital a partir da escrita

Prof. Dr. Anselmo Guerra de Almeida
guerra.anselmo@gmail.com

Cláudio Santoro compôs uma série de obras intituladas MUTATIONEN, das quais selecionamos a numero III, para piano e fita magnética. A partitura criada pelo autor compreende instruções minunciosas da própria montagem da fita, a partir de parâmetros fixados graficamente na partitura e através de instruções por texto. Nosso objetivo é realizar uma releitura da obra, descobrindo os objetos sonoros concebidos numa época e ambiente de artefatos analógicos, reproduzindo-os com as atuais ferramentas tecnológicas. Assim, MUTATIONEN III foi recriada a partir das instruções do autor traduzindo-as para os atuais procedimentos de gravação, edição e processamento digital.

Palavras-Chave: composição musical, música eletroacústica, música brasileira contemporânea.

José Miguel Wisnik
Considerações sobre 4 Gilbertos: uma proposta aparentemente despropositada

Rodolfo Coelho de Souza
A “profecia” de Gilberto Mendes sobre o fim da música erudita

Jerusa Pires Ferreira
A viagem de Ulisses

Sessão 7: Musimid: Trabalhos em andamento.
Heloísa de A. Duarte Valente
musimid@gmail.com
www.musimid.mus.br

Esta sessão apresentará os trabalhos concluídos, até o momento: o vídeo-documentário, o livro e o documentário em áudio.

Vídeo- documentário: Canção d’Além-Mar: O fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas

Este documentário apresenta, nos seus sessenta minutos, a presença do fado, na cidade de Santos. Além de uma das mais antigas cidades do Brasil, Santos conta com expressivo número de imigrantes portugueses: trata-se da primeira cidade, em números relativos e a segunda, em números absolutos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2002. Graças a essa marcante representação lusitana, a cidade foi palco, durante várias décadas, de um importante número de programas radiofônicos, além de ter acolhido artistas de grande prestígio, especialmente fadistas. Dentre os atores culturais, destacam-se Manoel Ramos e Lídia Miguez: radialistas e fadistas têm toda a trajetória da música portuguesa em sua voz e em sua memória: Em atividade há mais de seis décadas, com o programa Presença Portuguesa, o casal tem sido responsável, ao longo de sua carreira, por várias iniciativas, no sentido de divulgar e preservar a música portuguesa e, sobretudo: quando o fado se acreditava esmorecido, antes do surgimento do chamado Fado Novo, criaram o movimento Amigos do Fado, durante a década de 1990. Importante observar também que o casal vem formando seguidores, tanto no ofício de radialista, quanto de fadista. O documentário Canção d’Além-Mar mostra como o fado está presente na cidade de Santos, através de depoimentos de seus protagonistas, dos fadistas e pessoas ligadas ao fado.

Documentário radiofônico: Canção d’Além-Mar: O fado na cidade de Santos, pela voz de Manoel Ramos e Lídia Miguez

Compilação das entrevistas do casal, em formato documentário, a ser apresentado no rádio. Além da riqueza dos depoimentos em si, o formato atende, ainda às necessidades das pessoas com dificuldades de leitura. Trabalho realizado por Marta Fonterrada.

Livro: Canção d’Além-Mar: o fado e a cidade de Santos

O livro tem como tema a presença do fado, na cidade de Santos. Além de uma das mais antigas cidades do Brasil, Santos conta com expressivo número de imigrantes portugueses: trata-se da primeira cidade, em números relativos e a segunda, em números absolutos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2002. Graças a essa marcante representação lusitana, a cidade foi palco, durante várias décadas, de um considerável número de programas radiofônicos, além de ter acolhido artistas de grande prestígio, especialmente fadistas. Para ilustrar a presença do fado, na cidade de Santos, são apresentados, assim, textos referentes à vida musical na cidade, à imigração portuguesa, ao longo do século XX. No que tange ao fado, propriamente dito, a mais conhecida canção de Lisboa é abordada como gênero musical em transformação ao longo de toda sua história. Encontra-se, no volume, ainda, uma entrevista concedida por Manoel Ramos e Lídia Miguez, radialistas e fadistas de extrema relevância para a presença do fado na cidade. No apêndice, alguns comentários esboçados pelos participantes do documentário Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas.

Sessões musicais:

17 de setembro:
Edelton Gloeden e Luciano César Morais
Audição e comentários de três obras de Gilberto Mendes:
Peças para piano ns. 4 e 10
Prelúdio e Casi Passacaglia

Simei Paes e Cecília Adamovich
Lagoa
Peixes de prata
Beatriz Alessio

Estudo sobre "O Pente de Istambul" (Gilberto Mendes)
Estudo de Síntese (Gilberto Mendes)
Estudo Magno (Gilberto Mendes)

18 de setembro

Antonio Eduardo
Bossa 50 Nova

19 de setembro

Cibele Palopoli (flauta)
Giovanni Matarazzo(violão)

João Gilberto:
Ho Ba La La
Bim Bom

Gilberto Gil:
A Paz
Drão
Se eu quiser

Gilberto Mendes:
Sinuosamente: Veredas


Grupo Sete Cidades: Fados
Alexandre Matis, Gabriel Henrique Laudino, Marcos Santos, Tatiana Monteiro

Acordem as guitarras (Frederico de Brito)
Alfama (José Carlos Ary dos Santos/ Alain Oulman)
Meu amor é marinheiro (Manuel Alegre e Alain Oulman)
Barco Fantasma (Ivan Lins e Vítor Martins)
Lar d’Além-Mar (Gil Nuno Vaz e José Vaz Pereira da Silva)
Sonho de emigrante (Manoel Ramos e Lídia Miguez)
Tudo isto é fado (Aníbal Nazaré/ Fernando Carvalho)

4º Encontro de Música e Mídia: O Brasil dos Gilbertos (2009) Programa

4º Encontro de Música e Mídia:
“O Brasil dos Gilbertos: Gilberto Freyre, João Gilberto, Gilberto Gil e Gilberto Mendes”


Quarta-feira, 17 de setembro

9h00-19h00: Credenciamento

10h- 12h

Walter Garcia:
João Gilberto, o projeto utópico e a melancolia da bossa nova
(Ou: um baiano de Juazeiro na zona sul carioca, entre “Chega de saudade” e “Por que tudo é tão triste?”)

José Geraldo Vinci de Moraes
Gilberto Freyre e a música em “Sobrados e Mocambos”

Comentadores José Roberto Zan e Herom Vargas


14h-15h40
Sessão temática 1
Gilberto Mendes
Mediador: Marcos Júlio Sergl

Uma aproximação biográfica do universo poético-musical de Gilberto Mendes
Carla Delgado de Souza
Música eletroacústica no Brasil e o pioneirismo de Gilberto Mendes
Antenor Ferreira Corrêa
O meu amigo Koellreutter de Gilberto Mendes
Maria Yuka de Almeida Prado (Departamento de Música de Ribeirão Preto da ECA-USP)
Um percurso pela paisagem sonora de Gilberto Mendes
Marcos Júlio Sergl
Ouvinte privilegiada: Silvia Berg

15h40-16h Intervalo

16 h 17h20
Sessão temática 2
Gilberto Mendes projetos IC

Moderadora: Marília Laboissière

Cinemeiro ou Cineasta dos Sons? o cinema e a obra de Gilberto Mendes
Plínio B. Barros
Da tragédia ao Tango: análise da construção e das relações intersemióticas n'O Último tango em Vila Parisi, de Gilberto Mendes
Filipe da S. Alberti
Ouvinte privilegiado: Amílcar Zani

17h30- 18h:Intervalo

18h00-19h30
Gilberto Mendes
Impressões sobre os trabalhos apresentados.
Ser Gilberto Mendes- proposições e provocações, por seus (ex-) alunos
Comentador: Edelton Gloeden e Amílcar Zani

19h30-21h:
Edelton Gloeden e Luciano Cesar Morais:
Intertextualidades na obra de Gilberto Mendes – As possibilidades de releituras em um compositor contemporâneo.
Audição e comentários de três obras de Gilberto Mendes:
Peças para piano ns. 4 e 10
- Prelúdio e Casi Passacaglia

Simei Paes e Cecília Adamovich
Lagoa
Peixes de prata
Beatriz Alessio
A técnica composicional de Gilberto Mendes
Estudo sobre "O Pente de Istambul"
Estudo de Síntese
Estudo Magno


Quinta-feira, 18 de setembro

10h00 – 12h00
Paulo Chagas
Gilberto e Willy: ética e estética

Anselmo Guerra
Mutationem III de Claudio Santoro:uma tradução do analógico para o digital a partir da escrita

Comentadores João Marcos Coelho, Carlos Zeron e Fernando Iazzetta

12h-13h30 Intervalo Antonio Eduardo
Bossa 50 Nova


13h30-14-.50 Sessão temática 3: Gilberto Freyre:
Mediador: Mônica Rebecca F. Nunes
A divulgação de músicas regionais pelo programa de TV Frutos da Terra e a caracterização de uma identidade.
Martha Antonia dos Santos Reis
Deixa falar: Sambas e sambistas nos primórdios da música popular brasileira.
Carlos Eduardo Amaral de Paiva
Samba e nação: Música popular e debate intelectual na década de 1940
Eduardo Vicente

OUVINTE PRIVILEGIADO: Diósnio Machado Neto

15h00-15h20 intervalo

15.20- 16.40 Sessão temática 4
Gilberto Gil
Mediador: Ricardo Santhiago

“A gente ta aí, a gente não tem vergonha de nada, a gente é isso...” O doce bárbaro Gilberto Gil e os episódios de 1976.
Vicente Saul Moreira dos Santos
Raul Seixas, entre a legitimidade e ilegitimidade das artes musicais no Brasil.
Lucas Marcelo Tomaz de Souza
Gilberto Gil e a diáspora africana
Nancy Alves

Ouvinte privilegiado: José Roberto Zan

16h40- 17h Intervalo
17h00-18h30:

José Miguel Wisnik
Considerações sobre 4 Gilbertos: uma proposta aparentemente despropositada
Jerusa Pires Ferreira (filme):
A viagem de Ulisses
Rodolfo Coelho de Souza
Comentadoras: Heloísa Valente e Susana Ventura

18h30 : lançamento de livros, discos, filmes



Sexta-feira, 19 de setembro

10h00 às 12h00
Sessão temática 3
Gilberto Freyre
Mediadora: Susana Ventura
Vitória: da ilha à nuvem
Mónica Vermes
Discursos Identitários em Torno da Música Popular Brasileira
Michel Nicolau Netto
“Eu canto pra falar do Amazonas”: Um estudo da produção de MPA em Manaus.
Mauro Augusto Dourado Menezes
Prof. Dr. Sérgio Ivan Gil Braga
As identidades Gilberto e a identidade nacional
Paulo de Tarso Salles
Ouvinte privilegiado: Eduardo Vicente

12h00 -13h30 Intervalo :
Cibele Palopoli e Giovanni Matarazzo(flauta e violão)

João Gilberto:
Ho Ba La La
Bim Bom

Gilberto Gil:
A Paz
Drão
Se eu quiser

Gilberto Mendes:
Sinuosamente: Veredas


13h30- 14h50 Sessão temática 6
João Gilberto
Mediadora: Simone Pereira

O Campo da MPB como "braço artístico" da Modernização Conservadora Brasileira
– ou alguns porquês da "Contradição sem Conflitos de João Gilberto" e seus pares
Daniela Ribas Ghezzi
João Gilberto e a retomada do samba em via dupla
Liliana Harb Bollos
Bossa Nova: de canção a trilha
Carmen Lucia José
Elisabete Alfeld Rodrigues
De “João Gilberto de saias” a “diva predestinada”: Versões sobre Rosa Passos
Ricardo Santhiago (Universidade de São Paulo)
Ouvinte privilegiado: Paulo de Tarso

15h- 16h Sessão temática 7

MusiMid :Projetos em desenvolvimento
Heloísa Valente

16h-16h15 Intervalo

16h15- 17h15 Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de Manoel Ramos e Lídia Miguez
(‘trailer’ do programa de rádio)
Direção: Marta Fonterrada
Canção d’Além-Mar: o fado na cidade de Santos, pela voz de seus protagonistas.
(documentário)
direção: Eduardo Teixeira

1h15-18h
apresentação de fados
Grupo Sete Cidades e convidados
Fados
Alexandre Matis, Gabriel Henrique Laudino, Marcos Santos, Tatiana Monteiro

Acordem as guitarras (Frederico de Brito)
Alfama (José Carlos Ary dos Santos/ Alain Oulman)
Meu amor é marinheiro (Manuel Alegre e Alain Oulman)
Barco Fantasma (Ivan Lins e Vítor Martins)
Lar d’Além-Mar (Gil Nuno Vaz e José Vaz Pereira da Silva)
Sonho de emigrante (Manoel Ramos e Lídia Miguez)
Tudo isto é fado (Aníbal Nazaré/ Fernando Carvalho)



18h Encerramento
Heloísa Valente, Susana Ventura, Ricardo Santhiago

3º Encontro de Música e Mídia: As imagens da música (2007) Resumos

Música Apócrifa: a legitimidade do compositor da televisão brasileira

Alexandre Negreiros,
MSc/UFRJ
alexandrenegreiros@yahoo.com.br


Neste trabalho, apresento o eixo principal de minha pesquisa de mestrado, em que analiso a legitimidade dos compositores predominantemente dedicados à TV brasileira, inseridos num contexto cultural e sob escala de valores que os admite ou não, segundo critérios que busquei observar. Inicio analisando os critérios do sistema instituído de legalização de usos de obras musicais. Introdutoriamente, recorro ao contrato entre a Associação Brasileira de Editores Reunidos (ABER) e a TV Globo, para os direitos de administração privada e, para os de gestão coletiva - eixo de minha abordagem - analiso os regulamentos do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos autorais de execução pública (ECAD).Sigo com uma breve análise econômica da arrecadação do ECAD e, nela, destaco a relevância das emissoras de TV e algumas peculiaridades dessa rubrica nos critérios de distribuição que incidem sobre a obra dos titulares a ela vinculados. Um pequeno painel histórico e político dos últimos anos do órgão encerra esta etapa, onde procuro identificar suas principais características, qualidades e desafios. Encerro analisando aspectos centrais na organização de trabalho desses titulares, confrontando-os com conceitos “admitidos” para sua obra e presentes em leis vigentes. Interagindo essa relação com os dados econômicos e políticos levantados, uso uma reflexão de Leonard Meyer sobre o ‘valor’ na música, considerando também outros trabalhos e uma análise sobre as diferentes “escutas”, para responder algumas questões relacionadas à legitimidade desta categoria de “desconhecidos” cuja música é, queiramos ou não, a música brasileira mais ouvida no mundo.


Mídia, música e educação: a trilha sonora dos programas “Xuxa no mundo da imaginação” e “tv xuxa” da rede globo e suas implicações com a educação musical

José Nunes Fernandes - UNIRIO
Augusto Pires Ordine - UNIRIO
Contato: jonufer@globo.com

A pesquisa busca compreender as implicações educativas da trilha sonora de um programa televisivo infantil brasileiro em dois momentos. O primeiro se refere a cinco programas consecutivos gravados de “Xuxa no mundo da imaginação” (07/06/04 – 11/06/04). O segundo se refere a cinco programas consecutivos gravados de “TV Xuxa” (19/09/2005 – 23/09/2005). Ambos programas infantis apresentados por Xuxa Meneghel pela manhã na Rede Globo. Como critérios de análise foram usados os “graus de proximidade” (ou verossímeis) propostos por Porta (1997). Os citados “graus de proximidade” envolvem desde uma análise mais técnica, de parâmetros musicais e desenvolvimento musical, até suas implicações ideológicas no produto final que chega ao público. Uma abordagem sob o prisma educacional permeia toda a análise, tendo-se em conta a presença maciça da TV nos lares brasileiros como fonte principal de informação, cultura e entretenimento. Cumpre informar ainda que a segunda versão do programa, “TV Xuxa”, foi inicialmente ao ar em 2005, após uma série de mudanças ocorridas no “formato” anterior, denominado “Xuxa no Mundo da Imaginação”. Tal discussão, do programa anteriormente citado, foi objeto de estudo pelo grupo de pesquisa “Música, Mídia e Linguagem audiovisual” (CNPQ) em trabalhos apresentados em congressos e publicações ulteriores, e as conclusões então estabelecidas serviram de base e continuação para a análise atual.

O Fado: características melódicas, rítmicas e de performance.

Alexandre Francischini – Unesp
alefrancischini@terra.com.br
Marcos Júlio Sergl – Universidade São Judas Tadeu/Unesp
mj.sergl@uol.com.br
Rafael Eduardo Gallo – Unesp
gallorafael@yahoo.com.br


O fado pode ser considerado uma das marcas mais importantes da produção musical portuguesa, sobretudo das cidades de Coimbra e de Lisboa, um elemento de auto-afirmação da cultura lusitana e uma das formas mais autênticas para externar o jeito de ser, de sentir e de saber lidar com questões do cotidiano, em particular, as relações amorosas. Gênero inicialmente popular no Brasil, migra para Portugal provavelmente em 1821, no retorno da Família Imperial a esse país; passa por diversas reestruturações literárias e musicais; recebe influências de outros gêneros musicais portugueses, dos quais mescla elementos próprios de cada um deles com elementos característicos do fado; se recria constantemente por interferência das diversas gerações de compositores e se abre para um leque de sutis, porém definidas diferenças, pelas quais pode ser classificado em fado castiço, mais antigo, que, por sua vez, se subdivide em: maior, menor, corrido e mouraria; e, fado canção, mais recente. É nosso propósito analisar esse percurso e essa segmentação, comparar conclusões de pesquisadores que se dedicaram a esse estudo, analisar canções fundamentais de cada segmento a partir da recompilação, respaldada em critérios científicos estabelecidos por teóricos da música popular, e estabelecer um quadro de referência para futuros estudos a respeito desse gênero musical.

“. . . e Seguindo as Canções” – Cantos de Diáspora

Werner Ewald
Instituto Superior de Música de São Leopoldo
Instituto Ecumênico de Pós-Graduação
Werner@est.com.br

Resumo: O texto aborda canções compostas e entoadas para e pelos personagens envolvidos na história de diáspora de grupos de fala germânica da Europa Central para o Brasil e ocorrida no século 19 até inícios do século 20. Estas canções são uma das melhores fontes primárias desta história e permitem insights ímpares e especiais para se entender como aquelas pessoas que se deslocaram de um continente para o outro, se percebiam e se representavam ou eram levados a perceber sua situação. Signos de uma identidade, estas canções refletem a situação de origem dos emigrantes no “velho mundo” e como eles projetam, entendem e constroem o lugar de seus sonhos e esperanças no “novo mundo”. O trabalho centra-se na análise de algumas dessas canções selecionadas de cancioneiros, de literatura especializada e coletadas em pesquisa etnográfica ou em folhas soltas de arquivos históricos. Investiga pontos centrais das condições, experiências e inter-conexões de um grupo étnico (o de fala germânica, mais tarde denominado teuto-brasileiro ou genericamente “alemães” ), sua ordem social e sua cultura desde seus inícios até a atualidade.

A(s) música(s) que v(ê)m da(s) rua(s) – periferia x centro?

Magda Dourado Pucci
mestranda em Antropologia – PUC –SP
mdpucci@uol.com.br

Esta comunicação levanta algumas questões presentes na discussão sobre a música que vem da rua, que se cria marginal, fora do circuito cultural de elite; mas não apresenta respostas definitivas nem conclusões tendo em vista que o assunto vem sofrendo mudanças constantes e necessita de um maior distanciamento. O choque entre periferias e centros, pobres e ricos, brancos e pretos é uma constante na sociedade. Observamos uma explosão da miséria nas ruas que se expressa das mais diferentes formas, como o rap, o funk, tecnobrega e o sertanejo que seguiram a trilha da marginalidade, mas vêm ganhando espaço crescente nas mídias e um mercado crescente. Esse fenômeno, que parece ser uma característica da pós-modernidade, é antigo. Nos tempos da escravidão no Brasil, as rodas de capoeira foram proibidas pelos senhores do engenho, temerosos dos gestos “violentos” e da perniciosidade dessa prática, que hoje é “programa cultural” para turistas. O funk carioca, cuja expressão foi fixada em territórios do morro, agora, é tocado nas casas noturnas das capitais do país para entretenimento de uma jovem elite. Seria a mesma domesticação que houve com a capoeira? Há também o tecnobrega no Pará, um fenômeno de massa que reverteu as regras do mercado fonográfico. Embora se mantenha como música marginal, é inegável o sucesso de suas vendas “informais”. A música sertaneja de origem caipira, isto é marginal, hoje é consumida pela elite do país, sem constrangimentos. Há um fascínio por aquilo que está fora do centro, pela expressão marginal presente na periferia. Paira sobre nós o espírito de Oiticica: “Seja Marginal, Seja Herói”? Que marginalidade é essa que legitima e desautoriza ao mesmo tempo? Se a música da periferia pode causar tanta atração e tanta repulsa ao mesmo tempo, é porque ela suscita novas formas de expressão. Em tempos de globalização esse fenômeno ganha novas dimensões.


A leitura gráfico-musical sob o “olhar” de Merleau-Ponty


Denise Andrade de Freitas Martins
Professora da FEIT/UEMG e do Conservatório Estadual de Música de Ituiutaba, M.G.
denisemartins@netsite.com.br

A partir de pesquisa realizada em Conservatório Público Mineiro sobre as implicações dos programas de piano nos diferentes objetivos de alunos e professores, ao longo de seis meses com observação não-participativa e aplicação de entrevista semi-estruturada, observou-se que muitos complicadores emergiram da situação investigada, a relação aluno-piano-professor, trazendo à discussão questões ditas simples em seu aparecimento mas complexas em sua realização, como por exemplo: qual é o momento mais adequado à introdução da leitura gráfico-musical nas aulas de música, de que forma introduzi-la , como é a sua apreensão, como se dá a percepção e o entendimento musicais de crianças e adultos? Para tal, buscou-se nos estudos do filósofo francês Merleau-Ponty, em suas obras Fenomenologia da Percepção(1994) e Signos(1991), o principal suporte teórico desta pesquisa, quando trata da percepção, do corpo próprio e da linguagem como componentes fundamentais na relação homem-mundo, aqui especificamente a relação ser aluno de piano.Verificados na relação aluno-piano-professor o rompimento e(ou) continuidade do discurso musical diante da leitura gráfico-musical, a quebra de uma linguagem frente a um signo, a interferência e não independência dos sentidos, o transplante demasiadamente confuso no uso de uma linguagem para explicar outra, a idéia de que a leitura gráfico-musical pode ser mais um complicador do que um procedimento fundamental e indispensável às aulas de música, não pela sua inaplicabilidade, mas pela sua complexidade de aplicação, é que se justifica a necessidade da discussão aqui proposta, condição essa presente nas mais diferentes situações, aqui especificamente na relação aluno-piano-professor.

A relação trilha musical e a narrativa no filme “A professora de piano”: uma visão intertextual

Eduardo Barbaresco Filho
Mestre em Música e Semiótica pela UFG. universoed@hotmail.com


O interesse nesse artigo é o de abordar o enredo do filme “A professora de Piano” e suas perspectivas quanto à relação intertextual e diegética, com destaque para a sua trilha sonora. Percebe-se que toda a música produzida no filme é feita durante as cenas, sendo que ela dirige o espaço da trama, entrelaçando temáticas diversas como: o ciúme musical, a personalidade marcante e voyeur da protagonista e seu comportamento moral, sexual moral/sexual ou moral e sexual. O telespectador ao escutar a trilha, sabe de onde esta provém, formada no desenvolvimento do enredo. Assim, trata-se de um filme musical dialogando com o próprio universo da música, quando, por exemplo, a protagonista - professora de piano - apaixona por um de seus alunos, um pianista talentoso que toca obras de Schubert com grande facilidade. Schubert nesse contexto é uma das principais inspirações para a professora. Então, presume-se um amor musical e passional humano, dialético, onde o som musical interliga além das cenas, a história de vida da protagonista. A trilha conduz o ouvinte/telespectador a uma descoberta da personagem principal, navegando por seus desejos mais íntimos e reprimidos, sua insanidade, ou loucura humana, espelhando a imagem do “artista louco” já dito outrora por pensadores Deleuzianos. Um campo situacional entre linguagens é observado, com esse paradigma intertextual, em função das possibilidades representacionais estarem coagidas e intricadas em questão na relação música e filme, ou melhor, música e filme musical.

“Primeira Impressão”: Uma produção audiovisual como narrativa histórica

Profa. Drª. Márcia Ramos de Oliveira
Acadêmicos: Alan Carlos Ghedini
Anderson Florentino da Silva
Débora Mendes Bregue Daniel
Departamento de História / UDESC


Resumo: Partindo de uma nova dimensão de pensar a história, que procura relativizar a ordem dos discursos e transmitir os acontecimentos através de uma outra linguagem, o audiovisual tem ganhado espaço como um recurso importante para o discussão e análise dos processos históricos. Nesse sentido, nossa proposta é pensar de que maneira a produção audiovisual pode contribuir para uma nova proposta de produção historiográfica, percebendo na imagem e no som, importante auxilio na construção de narrativas. Através do audiovisual “Primeira Impressão” , produzido no Núcleo de Estudos Históricos do CCE-UDESC, pretendemos mostrar de que maneira o audiovisual pode ser percebido como construção de uma narrativa e reflexão, podendo essa expressão se dar através de uma musica, seqüência de imagens, contraposição de imagens e som, etc. A partir dessa experiência refletir como esses produtos cinematográficos são construídos: quem produz, pra quem está produzindo e quais são os objetivos.

De Francisco Alves a Roberto Jerferson: Nervos de aço, trajetória e narrativa da canção na construção de personagens e contextos

Profa.Dra. Márcia Ramos de Oliveira
Departamento de História / UDESC

A canção Nervos de aço foi gravada pela primeira vez em 1947 e, tornando-se referencial a trajetória de seu compositor – Lupicínio Rodrigues -, enquanto destacado representante do gênero samba-canção. Desde seu surgimento, pouco passou desapercebida, fosse pela força de seus versos associados a passionalidade de seu criador, ou pela intensa dramaticidade das diversas interpretações embaladas pela sua força melódica. Indissociáveis expressões da fala do compositor, e de seus intérpretes, esta canção isoladamente preconizou toda uma série de incidentes e fatos relacionados a sua manifestação. Das tentativas de suicídio que a imprensa das décadas de 1940 a 50 relatava ou, ao conturbado episódio de denúncia do mensalão no Congresso Nacional Brasileiro no ano de 2005, Nervos de aço recria-se a cada novo contexto. Este trabalho pretende abordar parte da extensa biografia desta canção.

Mulheres da musica na revista illustração pelotense: a imagem como construção de identidade

Isabel Porto Nogueira
Doutora em Musicologia, Professora do IAD/UFPel,
Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
isanog@terra.com.br
Francisca Ferreira Michelon
Doutora em História, Professora do IAD/UFPel,
Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
franciscafmichelon@yahoo.com.br

Este artigo pretende analisar as imagens de mulheres intérpretes publicadas na Revista Illustração Pelotense, publicação quinzenal impressa na cidade de Pelotas (RS) no período 1919-1927, analisando a importância da imagem da mulher musicista nesta publicação a partir de seu contexto histórico. No momento de publicação da Revista Illustração Pelotense, o positivismo valorizava fortemente a educação musical como elemento fundamental da boa educação feminina. A Revista Ilustração Pelotense representou, no período 1919-1927, um importante veículo estético e cultural para a cidade de Pelotas e estado do Rio Grande do Sul, divulgando eventos musicais e idéias de intelectuais, promovendo um entrelaçamento entre arte, cultura, mundo elegante e intelectualidade. Ao mesmo tempo, representou um veiculo importante para a “invenção” de uma identidade feminina moderna, uma vez que as mulheres se constituíam em um novo e importante publico leitor, para o qual as revistas ilustradas se dirigiram. Observamos aqui um interessante processo de “invenção” de um modelo feminino de modernidade para a época, de uma mulher urbana apreciadora de artes, música, poesia, moda e literatura francesa; e desempenhando também novos papéis dentro da sociedade. Observamos a atuação de mulheres musicistas, fazendo com que se perceba a legitimação da mulher artista dentro dos novos papeis de participação social feminina que se abrem nos anos 1920. Desta forma, a Revista foi importante meio de divulgação da produção musical da cidade, e entendemos que o estudo dos artigos e imagens nela publicados pode lançar novas e importantes luzes para o entendimento do cenário cultural do RS no começo do século.

A invenção do “outro”
Cinema contemporâneo, repertórios musicais e construção de identidades urbanas

Bernardo Rozo
Doutorando em Etnomusicologia. Escola de Música da UFBA
rozosensei@yahoo.com

Os universos urbanos e as complexas indústrias culturais da atualidade oferecem uma extensa variedade de produtos ligados ao entretenimento, mas que também estão profundamente ligados às mudanças socioculturais que vivem os cidadãos. A música dos filmes contemporâneos é um desses produtos controvertidos. Nestes contextos, será que é possível uma etnomusicologia que estude a música do cinema além das questões sonoras? O presente trabalho procura sentar as bases sobre as quais poderia ser desenvolvida uma pesquisa etnomusicológica holística sobre os repertórios musicais do cinema contemporâneo, principalmente dos filmes que, desde as cidades, tentam apresentar ou representar uma alteridade étnico-racial que esta cada vez mais presente nas metrópoles. A idéia principal é refletir entorno da possível relação e/ou influência destas músicas e a construção social da idéia do “outro” cultural (índio, negro, campesino, cigano, etc.), e, como conseqüência, observar como é que são construídas algumas formas identitárias urbanas, assim como também os princípios de interação interétnica.

Incidental: a música como meio
Caio Manoel Nocko – UFPR/ Essei
caionocko@uol.com.br

O presente artigo investiga a relação da música com outras artes – literatura, as artes cênicas, as artes plásticas e a dança – no que diz respeito ao entendimento da arte dos sons como ‘música incidental’. Conecta, ainda, tais relações com gêneros propriamente musicais, como a canção e a ópera, buscando a mesma interpretação sobre o conceito de ‘música incidental’. De um lado, o foco é a conceituação de ‘música incidental’ e sua correlação com os fatores extra-musicais e a distinção entre música ‘incidental’ e aquela denominada ‘trilha sonora’. Aonde acaba uma e começa outra? Mas o intuito é também de aprofundar não só a ‘classificação’ em si, mas as diferentes formas em que a música atua em conexão com cada um dos diferentes fatores extra-musicais. De certa forma, um estudo da música ‘como meio’, seja puro ou composto. Para tanto, autores como Lívio Tragtemberg, Jorge Lima Barreto, David Sonnenschein e Theodor Adorno serão considerados, entre outros.

Os sons que vendem

Juliano Matteo Gentile
Mestrando no Programa de Pós-graduação em Música da UNESP
jugentile@uol.com.br

O amolador de facas, o carro do vendedor de morango, o veículo de onde se anuncia a pamonha de Piracicaba, cada um com um tipo específico de som para chamar nossa atenção e anunciar um produto ou serviço, o velho conhecido pregão O comércio sempre esteve ligado à necessidade de divulgação, seja ela visual ou sonora. Este trabalho aborda uma delas, qual seja, a música como recurso sonoro dos comerciantes no ambiente urbano. O objetivo é reverberar e discutir os estudos do educador e musicólogo canadense R. Murray Schafer sobre paisagem sonora. É uma tentativa de atualizar algumas informações referentes aos sons da rua como apelo ao consumo, uma vez que Schafer realizou suas pesquisas na primeira metade da década de 1970, a maioria delas em cidades européias e canadenses. Parte-se aqui do conceito de paisagem sonora como o conjunto de ambientes sonoros, sejam eles sons naturais, industriais ou mesmo construções abstratas, como composições musicais. Tendo isso em vista, este trabalho será apresentado em três partes: a primeira trata dos pregoeiros de rua como personagens históricos dos centros urbanos e das transformações dos sons da rua com a revolução industrial e tecnológica; a segunda traz uma abordagem real do recurso sonoro dos comerciantes, incluindo lojistas, a partir de um estudo de campo em duas regiões tradicionalmente ligadas ao comércio no centro de São Paulo; finalmente a terceira parte entra no âmbito mais propriamente musical, procurando levantar a discussão sobre a relação entre música e paisagem sonora.

Sonora palavra: Poesia e textura na obra vocal Contemporânea

Marcia Taborda
UFSJ
marciataborda@globo.com

Questões fundamentais subjacentes ao progresso tecnológico afloraram nas últimas décadas, trazendo a necessidade de reavaliação de conceitos referentes à própria natureza da matéria musical e às possíveis formas de sua organização. Novas relações entre as propriedades do som - altura, timbre, intensidade, duração – espaço, levaram ao desaparecimento dos eixos vertical/horizontal, e proporcionaram novas perspectivas relacionadas a escritura, escuta e análise desse material. A voz, "único instrumento comum a todas as civilizações musicais" segundo Pierre Schaeffer, devido à extensa gama de associações e riqueza de suas possibilidades, foi dos instrumentos mais receptivos aos novos processos, englobando desde os padrões técnicos da vocalidade tradicional, aos mais variados aspectos da experiência vocal cotidiana. Devido à quase invariável ligação à palavra, vamos notar que a inter-influência texto-música sofreu inúmeras e marcantes modificações ao longo desse processo: textos serão traduzidos em textura, passando a ser escolhidos por suas possibilidades fonêmicas, podendo (ou não) ser organizados de maneira a produzir um resultado cujo significado seja não verbal. Utilizando exemplos de Luciano Berio, Vânia Dantas Leite e Jocy de Oliveira, propomos apresentar alguns modelos de realização vocal num contexto onde a finalização da obra surge dos processos de parceria na relação compositor/intérprete.

As imagens da escuta musical: sonoridades

Rodrigo Fonseca e Rodrigues
Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP (2007)
FCH/FUMEC – BH
rodfroes@gmail.com

Escutamos a música, o sentido nela implicado, as progressões harmônicas, as distribuições polifônicas, a respiração e a lírica no canto, as palavras, as frases, os significados, a vocalidade, percebemos texturas sonoras, geramos imagens internas e estados sentimentais. O que não percebemos, no entanto, são as virtualidades inimagináveis que maquinam o regime sensível da escuta: modulações e ritmos incorporais, nem sempre sonoros, mas simplesmente intensivos. Perguntamos se não seria preciso pensar a escuta musical para além – ou aquém – das imagens atualizadas ( as afecções ), das imagens sonoras ou simbólicas que ela produz, porém acolhendo também, na sua concepção, imagens pré-sensíveis, a-formadas, até mesmo sem nenhuma referência ao som. Por isto, faz-se necessário re-imaginar a escuta não como um fenômeno ligado ao sonoro, mas como uma paradoxal composição de "imagens-movimento", de "imagens-tempo". A sonoridade é um conceito que talvez exprima o que os conhecidos conceitos de som, de objeto sonoro, de forma e de matéria sonoras ou musicais não alcançariam. Com efeito, a sonoridade não descreve a coisa sonora, nem uma qualidade ( como, por exemplo, o timbre ), mas antes um processo imanente de tempos implicados na escuta, uma realidade heterogênea composta por ritmos intensivos que subsistem a realidade extensiva do som ou do signo. A sonoridade é, para a nossa discussão, uma palavra desejável, porque ela expressa uma composição singular de sensações, naturais e inventadas, de imagens formadas, de memórias, de signos, de valores, mas sobretudo de imagens não formadas, de puros movimentos imperceptíveis, de temporalidades incomunicáveis, apenas criativas e indecidíveis. A sonoridade será o movimento intempestivo da escuta, a sua própria imagem, composta por devires e afetos, essas forças inexpressas do Tempo que animam a nossa realidade sensível da música.

Ctrl+X, Ctrl+C & Ctrl+V
Cut, Copy and Paste – da reciclagem ao LEGO® em música.

Julio Cesar Lancia
Mestrando do Curso de Pós Graduação em Música– UNESP
jclancia@gmail.com

Este trabalho tem como objetivo discutir um conjunto de técnicas de edição sonora simples e amplamente difundido na contemporaneidade: cortar, copiar e colar. A partir de procedimentos como citação, reutilização de temas, edição de material pré-gravado e sobreposição de fragmentos de música, o texto busca apontar antecedentes históricos e sua utilização no século XX; discutir o componente carregado de visualidade e materialidade dessa concepção de manipulação de áudio – desde os procedimentos em fita até os atuais sistemas digitais, tanto nos métodos quanto nos equipamentos –; e apontar algumas conseqüências da manipulação sonora baseada nesse conceito, como as práticas dos DJs, as regravações e remixes que utilizam material gravado por artistas até já falecidos e os subgêneros criados pela sobreposição de elementos pré-existentes. Por fim, alguns comentários serão feitos sobre a necessidade de observarmos e repensarmos o novo compor derivado dessa idéia.

O experimentalismo na trajetória musical dos Mutantes

Daniela Vieira dos Santos.
Mestranda em Sociologia pelo Programa de pós-graduação em Sociologia da UNESP
FCL/Ar. Bolsista da FAPESP daniunesp@yahoo.com.br

O trabalho tem como objetivo analisar a produção musical dos Mutantes, vinculada ao movimento tropicalista, no período de 1967 a 1976, a partir da análise sócio histórica da canção. Pretendemos entender como as experimentações sonoras do grupo estavam vinculadas aos aspectos mais evidentes da sociedade no final dos anos de 1960. Estamos considerando as mudanças experimentais ocorridas na trajetória musical dos Mutantes para analisarmos questões relevantes na passagem dos anos 60 aos 70. Tomamos como referência maior o movimento da contracultura que engendrou não só no Brasil como no exterior significativas transformações à sociedade nos âmbitos morais, políticos, culturais ou ideológicos. Trata-se aqui de uma análise sociológica da cultura que privilegiará a música como uma forma de documento social (histórico) de análise. Tal empreendimento se justifica na medida em que há poucos estudos acadêmicos nessa área, portanto, a necessidade de se preencher essa lacuna sobre o estudo entre música e sociedade, assim como expandir as interpretações já realizadas sobre o tropicalismo musical.

Podcast como mídia de criação

Paulo C. Chagas
Universidade da Califórnia, Riverside
paulo.chagas@ucr.edu

Podcast é um nova tecnologia inspirada do rádio que emergiu na Internet, impulsionada pela popularização do tocador iPod, e que se firmou rapidamente como mídia digital. Este artigo examina o potencial do podcast como veículo de criação artística em projetos que exploram a comunicação intermídia no âmbito da cultura global. Estes projetos estão sendo desenvolvidos no âmbito do curso “Performance Global”, que estou ministrando na Universidade da Califórnia, Riverside. Os estudantes realizam podcasts a partir de diversos materiais – sons ambientais, voz, músicas etc. – e refletindo sobre temas relacionados à identidade, esquizofonia e nomadismo. Um dos aspectos fundamentais deste curso, que constitui o embrião de um projeto de pesquisa, é estimular a reflexão critica sobre o impacto da tecnologia digital sobre a sociedade. A hipótese levantada por este artigo é que o exercício desta critica não pode restringir-se à ao texto e linguagem; ela precisa incorporar a atividade prática, de manipulação dos próprios aparelhos da tecnologia informática e áudio-visual. Em outras palavras: para compreender e criticar a tecnologia é necessário utilizá-la de forma criativa.Na apresentação deste artigo pretendo tocar e discutir exemplos de podcasts realizados pelos estudantes e avaliar a hipótese em função dos resultados pedagógicos.

A Canção na cena cinematográfica

Carmen Lucia José – Universidade São Judas Tadeu
cljose@uol.com.br
Elisabete Alfeld Rodrigues – PUC/SP
ealfeld@uol.com.br

O cinema nasce mudo mas já acompanhado da música para aclimatar e ritmizar o que é sugerido na representação da cena. Neste primeiro momento, a música é instrumental e não-diegética porque a música não pertence ao espaço-tempo do enredo. Ao ganhar a banda sonora, a música torna-se trilha, isto é, vem recortada em fragmentos que passam a apresentar diversas durações conforme o tempo dos recortes da cena. Neste segundo momento, apesar da trilha ainda continuar sendo usada como som não diegético, como era feito anteriormente, a trilha conquista o seu lugar no interior da cena cinematográfica, passando a pertencer ao espaço-tempo do enredo, tornando-se, portanto, diegética. A partir daí, o filme cinematográfico visibiliza-se como texto cultural resultante da interface entre imagem visual e imagem sonora. No cinema, a cena é constituída dos seguintes elementos: os personagens, a ação e o cenário; o áudio é constituído da palavra falada, da música/trilha sonora e dos efeitos sonoros. A proposta deste estudo prioriza a função da música/trilha como um dos componentes responsáveis pela criação da dramaticidade da cena. Interessa-nos, portanto, a análise da música/trilha situada na interface entre a imagem visual que constrói a cena e a imagem sonora que dela faz parte. Para realizar esta proposta, selecionamos a trilha sonora da vinheta de abertura do filme “Eu, Tu, Eles”, dirigido por Andrucha Wadigton e sound-design de Gilberto Gil, quando a letra da canção devidamente interfacetada na cena torna-se unidades de ação da personagem-protagonista, ressemantização da canção como trilha do filme.

Transcrição fonética do fado

Simei Paes.
simeipaes@click21.com.br

A transcrição fonética é um instrumento criado para registrar a fala de determinadas línguas de forma consistente e sistemática. Podemos dizer que a transcrição fonética é uma representação simbólica que pretende captar tantos aspectos da realização sonora quanto possível, sendo um instrumento básico de aproximação da pronúncia para o lingüista ou para quem deseja utilizar o recurso. Pode-se pensar à primeira vista que, idealmente, a transcrição deve ser um registro completo e fiel da língua estudada, porém o mais competente “transcritor” não é capaz de anotar todos os aspectos do sinal sonoro, muito embora se deva sempre buscar um alto grau de fidelidade em toda e qualquer transcrição fonética; em suma, a transcrição fonética é uma representação daquilo que o falante de uma língua considera serem as propriedades fonéticas de uma realização, tendo em conta, o nível da fala e o conhecimento que porventura o falante possui das regras de gramática da língua. Busca-se na transcrição fiel, a necessidade de constituição de símbolos discretos que represente o contínuo (ou quase contínuo) sinal fonético da fala. A boa transcrição é aquela que busca abstrair de certo tipo de propriedades do sinal fônico, os traços prosódicos, ou seja, o tom da voz, a entoação e a intensidade. Este texto visa levantar uma questão muito discutida, de como cantar um fado, já que em tese, Brasil e Portugal possuem a mesma língua, se é possível neste caso, utilizar ou não de transcrição fonética, recurso muito usado no campo erudito, para tentar transcrever um texto de uma música considerada popular. Transcrição do fado “Foi Deus” baseado na pronúncia da grande cantora de Fado, Amália Rodrigues.


“Quem não a conhece não pode mais ver pra crer”:
Memória, Identidade e Negritude na Canção Popular

Ricardo Santhiago
Núcleo de Estudos em História Oral – USP
rsanthiago@usp.br

A História Oral, superando a condição de ferramenta e caminhando rumo à sua afirmação disciplinar, tem como desafio a incorporação de fontes que contribuam para a validação de versões históricas não consagradas por documentos oficiais. Nesse contexto, a canção popular é capaz de evidenciar a reserva de memória de um grupo em uma época. A canção moderna, produzida a partir de 1958, apresenta-se assim como fonte substanciosa para uma história do tempo presente afeita a estudos de Memória e Identidade. Na pesquisa que ora desenvolvemos, de registro e análise de histórias de vida de cantoras negras que não se vincularam ao samba ou a outros gêneros originados no segmento negro (entre elas estão Alaíde Costa, Rosa Marya Colin e Adyel Silva), despontam as seguintes premissas: 1) a associação corrente e feita entre negro e cultura negra; e 2) a invisibilidade entregue ao negro que transpõe as barreiras culturais de sua etnia. A historiografia oficial, sem se furtar ao trato das dificuldades de integração do negro na sociedade, perde de vista esta filigrana, revelada pela canção. Nesta comunicação, são analisadas obras musicais gravadas a partir de 1958 que se articulam à problemática apresentada. Elas são referenciadas à canção Quem te viu, quem te vê, de Chico Buarque de Hollanda, que dispõe inúmeras associações entre mulher negra e cultura negra e, como exemplo modelar do conjunto trabalhado, pronuncia-se de forma depreciativa a respeito da mulher que desfaz esse vínculo.

A escuta do olhar: as novas ressonâncias do design e suas conexões com a música

Maria Lucília Borges
PUC/SP – Doutorado
luciliaborges@yahoo.com.br

O objetivo deste artigo é investigar as novas ressonâncias do design e suas conexões com a música, como pensá-lo para além de uma existência material, “real”, mas possível, virtual. Partimos da hipótese de que música e design não apenas podem ser de mesma natureza como podem ocupar os mesmos territórios. Embora o design tenha estado por muito tempo subordinado ao “sólido” e à visão, o ouvido, enfim, parece se desvelar e mostrar-se em sua “liquidez”. O olho que “escuta” encontra o ouvido que “vê”. O design não apenas “vê”: ouve e toca. Um design, entretanto, que não é imagem, nem som, mas algo que ultrapassa as barreiras do próprio som e da imagem, de qualquer representação de um no outro, e “transpassa” um E outro, entra por todos os poros e não apenas pelos ouvidos. Algo relativo à frequência e à percepção das qualidades dos fenômenos sonoros e luminosos descartando seus aspectos físicos, indiciais e simbólicos para se concentrar em algo que está além do som, além da imagem: o objeto em si mesmo. É o que Pierre Schaeffer chama de escuta reduzida e que poderíamos atribuir também ao olhar. Para Schaeffer (1966), o objeto sonoro não tem uma existência “em si”, constrói-se através da escuta, uma escuta isenta de julgamentos, aberta, capaz de ouvir não só o sonoro mas o possível musical. É nesse mesmo sentido que falamos de um design, tanto abstrato quanto possível, que se constrói através de uma (também) “escuta”, uma (quem sabe) escuta do olhar.

Em busca da saudade, um percurso a partir do repertório do programa Presença portuguesa

Susanna Ventura (MusiMid)
ventura.susi@hotmail.com


Esta comunicação realiza uma breve análise das letras de 8 entre as 40 músicas mais pedidas no programa de rádio “Presença Portuguesa”- transmitido atualmente pela Rádio Universal 810 AM, de Santos – SP. A lista foi informada em 2006 pelos produtores musicais Manoel Joaquim Ramos e Lídia Miguez à pesquisadora Heloísa de Araújo Duarte Valente. O objetivo deste trabalho, que se agrega a uma pesquisa mais ampla, é o de analisar temas e seus tratamentos nestas obras, de modo a delinear o “imaginário” formado por este conjunto. O grupo de músicas é composto por: “Foi Deus”, “Lisboa antiga”, “A casa da mariquinhas”, “Lágrima”, “Júlia Florista”,“Lisboa menina e moça”, “Gaivota” e “O xaile da minha mãe”.

Q Assinatura Musical: a Identidade Sonora da Marca.

Luísa Iolanda de Souza Borges (Iniciação Científica CNPq e MackPesquisa) (luiolanda@msn.com)
Orientadora: Gláucia Davino (gcine@arquitetos.com)

Esta pesquisa buscou investigar e apontar alguns parâmetros para a criação de uma Identidade Sonora, identificando semelhanças e analogias entre a linguagens sonora e a imagética, fatores culturais, etários e psicológicos que influenciam o processo de memorização de uma frase musical, contando com a observação de aspectos teóricos de outras ciências e não somente as puramente musicais. Na sociedade midiática e fortemente audiovisual, as grandes empresas contam com o recall para construir estratégias para uma comunicação mais próxima e memorável com o consumidor, de forma que se sinta seguro e fiel a uma Marca que garanta um ideal, um compromisso e um status. Diferentemente das imagens, o som contamina o ser humano sem necessariamente ser percebido. A Identidade Sonora é a dimensão sonora que torna uma Marca única. As reflexões que incitaram a pesquisa foram a coerência de uma sonoridade com uma Marca e sua atuação na memorização dos conceitos que ela significa. Para os processos de apreensão e memorização dos sons e as relações com frases de fácil memorização, utilizamos aspectos da psicologia, da semiologia e das leis da Gestalt. Para preparar os diversos leitores para as análises seguintes passamos sobre as formas de notação e composição. Depois, realizamos a análise das linguagens auditivas e visuais de dois casos bem sucedidos passando pelos motivos das suas concepções, desde a história da até sua forma final.


Música como narrativa de cena: Moda à Terra
Nash, Ricardo.
ricnash@hotmail.com

Este artigo propõe uma reflexão sobre as diversas relações existentes na construção da obra Moda à Terra: estudo de caso da tese Música e(m) Cena: processo de criação em mídias diversas, orientada por Silvio Ferraz. A tese, defendida no programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP, foi apresentada no Teatro Oficina, em outubro de 2006. Moda à Terra é uma intervenção performática lítero-musical. O nome lítero-musical se refere à combinação da música com literatura, mais especificamente à colagem de poesias, ou apenas de fragmentos de textos poéticos de Padre José de Anchieta, Mário de Andrade, Cecília Meireles, Fernando Pessoa e do próprio autor e intérprete. O artigo analisa as diversas relações tecidas na composição musical: a criação do texto cantado a partir de um tema dado; a relação entre palavra cantada e palavra falada, a relação entre o instrumento tocado e a voz, e como a música atua como narrativa desta cena performática, ou seja, como o texto da música se torna a própria narrativa cênica.

Interações midiáticas entre um programa radiofônico sobre a jovem guarda e a construção da memória de uma coletividade na cidade de pelotas/rs

Paulo C. P. Moysés
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
pcesar.sul@zaz.com.br
Isabel Porto. Nogueira

Professora Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural do Instituto de Ciências Humanas – UFPEL
isanog@terra.com.br

RESUMO: Este artigo pretende a análise de como se processa a perpetuação dos elementos simbólicos identificadores da Jovem Guarda, a partir de um programa de rádio e seu apresentador. O objeto deste estudo será o radialista-cantor Mário Antonio, que comanda há mais de trinta anos um programa radiofônico que se apresenta como representante do movimento da Jovem Guarda. Tendo em vista ser este um programa semanal, veiculado, atualmente, por uma rádio universitária de longo alcance, entendemos que a dimensão e longevidade do programa contribuíram para a criação de um sentido identitário para a comunidade reunida em torno do programa. Aliado à isto, o conceito de espetáculo se instala através da realização periódica do “Baile da Jovem Guarda”, promovido pelo radialista e no qual atua como cantor da “Mario Antonio Band”, que congrega pessoas de toda a região sul do estado do RS em locais de grandes dimensões. Com o mote “está começando o movimento Jovem Guarda, trazendo alegria para o seu domingo”, o programa veicula músicas da época da jovem guarda em gravações originais, congregando, ao mesmo tempo, admiradores do movimento em sua época e ouvintes de gerações posteriores. Entendemos, então, que o programa de Mario Antonio, promove a reunião de uma comunidade do sul do estado do RS em um sentido de grupo. Investigar a contribuição do radialista Mario Antonio e de seu programa para a construção da memória e da identidade social de uma coletividade pelotense torna-se ferramenta importante para compreender a memória como organismo vivo.

Mutações do I-Ching": intersemiose música-física em raízes milenares orientais
Eufrasio Prates
UNB
eufrasioprates@gmail.com

Diversos traços do que se tornou conhecido como o paradigma holonômico podem ser claramente percebidos na música contemporânea, especialmente a partir da metade do século XX. Conceitos como acausalidade, imprevisibilidade, atemporalidade, multidimensionalidade, relatividade, paradoxalidade ou omnijetividade, a maioria deles provenientes do campo da física, são encontrados também na música do pós-guerra, confirmando indicialmente suas qualidades e potentialidades paradigmáticas. Tais conceitos, por sua vez, apresentam diversas similaridades qualisígnico-icônicas com premissas da sabedoria milenar oriental. O presente estudo visa apontar como a conscientização desses conceitos na criação musical pode enriquecer as possibilidades expressivas da música contemporânea e levá-la a inter-relacionar o moderno e o tradicional de uma forma orgânica. Entretanto, para lidar com tais questões no fenômeno musical, é indispensável dispor de "ferramentas" semióticas, capazes de analisar e compreender com rigor, solidez e profundidade as interconexões paradigmáticas citadas. Felizmente, os investigadores da semiótica da música fizeram avançar tais ferramentas o bastante para permitir um grau razoável de confiabilidade nas conclusões de uma pesquisa-ação como a presente. A aplicação destes conceitos na criação musical será demonstrada por meio da análise de uma composição experimental intitulada "Mutations", um grupo livremente ordenável de 64 peças musicais de 1 minuto cada, inspirados nos 64 hexagramas do I-Ching. Além da conexão entre música e física, essa análise permitirá também explorar a relação desses conceitos inovadores a certos traços comuns da milenar e tradicional filosofia oriental.

O bolero na mídia e na paisagem sonora mundial e brasileira.

Bruno Renato Lacerda. Instituto das Artes
Mestrando em Música Unesp
brlac@hotmail.com .

Esse trabalho pretende traçar a relação entre a introdução das mídias na paisagem sonora e o seu papel na propagação do bolero pelo mundo. O período de mudanças na paisagem sonora, advindas pela revolução elétrica, final do século XIX ao início do século XX, foi crucial para expansão do poder das mídias: o rádio, as gravadoras, o cinema, e posteriormente, a televisão contribuíram para o desenvolvimento e projeção do bolero na paisagem sonora mundial e brasileira. Aliás, todo o sucesso que o bolero veio a alcançar jamais teria sido possível sem as mídias. Estas tiveram significante papel na orquestração da paisagem sonora ao longo século XX e dos gêneros musicais. Na medida em que essas formas de mediatização técnica do som se aperfeiçoavam, ocorria, também, uma forte adesão aos novos aparelhos tecnológicos e, com isso, uma grande expansão no domínio do território acústico. As tecnologias foram se desenvolvendo e gradualmente criando um ambiente sonoro totalmente novo. Em paralelo ao processo de desenvolvimento das mídias ocorreu o surgimento e a difusão do bolero na paisagem sonora mundial. Este trabalho procura demonstrar que grande parte das profundas alterações advindas na paisagem sonora ao longo desse período coincide com a propagação das mídias, justamente quando se dá o desenvolvimento do bolero. O estudo desse gênero não pode, portanto, desvincular-se do estudo da paisagem sonora.


A modinha na senda da "humanidade impossível": música e ideologia em meados
do século XVIII.
Prof. Ms. Diósnio Machado Neto
ECA-USP/ Ribeirão Preto
dmneto@eca.usp.br

No Brasil de Dom João V a visão de uma "humanidade impossível", que se formava pela sensação de quebra dos paradigmas da sociedade estamental, estimulou diversas ações para "corrigir" a suposta moral conspurcada da população. A música mediou, então, um trânsito entre as manifestações populares, de onde derivava a burguesia emergente, com os padrões conservadores da elite salvacionista. Assim, a nova classe teve que eliminar a sensualidade corporal típica de suas danças e cantos para que as vias de acesso aos círculos elevados da sociedade colonial não maculassem as normas da moral cristã-aristocrática. O objetivo da comunicação é justamente observar as formas dessa mediação consbstanciada em pauta estética, observando a relação da modinha, gênero que melhor explicitou o fenômeno, com aspectos ideológicos que inoculavam a redenção pelo modelo da mulher casta revitalizando um surto mariológico. Assim surgiu uma poesia de erotismo retraído que reanimava alguns ideais da lírica quinhentista, em que o amor era mitigado pela distância corporal, velado e preso na intimidade do espírito onde o desejo era aplacado pelo juízo. Nessa senda, a modinha negou os gestos fortes dos ritmos afros-descendentes dissimulando a característica erótica pela languidez melódica, consubstanciada na incorporação dos modismos da ópera italiana. na alteração da sensibilidade social, o gênero foi fundamental para sedimentar novos espaços de sociabilização, além do espetáculo litúrgico.

A canção em cena: um olhar sobre as interações entre música popular e meio audiovisual
Eduardo Vicente
CTR/ECA-USP
E_vic2004@yahoo.com.br

A proposta do texto é de oferecer uma aproximação inicial para a discussão da relação entre canção e a produção audiovisual, refletindo brevemente sobre o desenvolvimento do tema no cenário internacional e, mais particularmente, sobre essa articulação no Brasil. Nesse percurso, uma das intenções do texto é refletir sobre o uso não diegético da canção como uma estratégia efetiva de ruptura com a narrativa clássica do cinema e, por outro lado, sobre as estratégias sinérgicas de atuação dos grandes conglomerados e, nesse sentido, sobre os interesse comerciais que também podem estar implicados nesse prática - especialmente no que se refere ao cinema industrial e, no caso brasileiro, às trilhas de telenovelas. Além disso, o texto busca discutir o surgimento de bandas e artistas de grande projeção no mercado fonográfico a partir de produções audiovisuais -especialmente televisivas - como é o caso de bandas como The Monkees, Partridge Family e, no Brasil, das urmas e apresentadores de programas infantis dos anos 8 e 90.

Imagens sonoras dos deuses que dançam – música, mito e movimento nas religiões de orixás.

Jorge Luiz Ribeiro de Vasconcelos
IA/UNICAMP
jorgelampa@iar.unicamp.br
RESUMO – Dentre as várias possibilidades de estabelecimento de relações entre sons (musicais ou não) e outras linguagens, as religiões afro-brasileiras chamam a atenção pela intrínseca sutura entre seus múltiplos elementos constitutivos. Música, sons incidentais, cores, vestimentas, adereços, movimento e mesmo paladares concorrem para a construção imagética daqueles que são os principais “personagens” desta manifestação cultural: os orixás. Estas divindades trazidas da África no processo da diáspora negra “materializam-se” no corpo de seus devotos através de cantos, ritmos, coreografias e outros elementos específicos, recriando as narrativas míticas que dão suporte às práticas religiosas. A partir de dados obtidos na pesquisa de campo efetuada para a realização do doutorado em Música, que tem como principal referencial metodológico a etnomusicologia, a proposta deste artigo é discutir como a articulação desses elementos se efetua, num processo análogo ao de outras manifestações e gêneros artísticos. Tem também como objetivo considerar as especificidades do caso estudado, não só por suas características religiosas e de ligação com as narrativas míticas como por sua condição de manifestação da esfera da chamada “cultura popular”. A partir daí, pretende-se sugerir uma “leitura” dos rituais de candomblé queto e outras religiões similares como a da construção de uma “partitura” e de um “libreto”, destacando as particularidades de seus elementos sonoros e daqueles que constituem a base de sua narratividade. Como tal base são os mitos que atualizam a ancestralidade recriando-a nos rituais, a discussão central aqui é, reitero, o processo pelo qual aqueles tornam-se vivos através dos elementos destes, principalmente a música.